sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um Conto Curto Demais


Era uma manhã de sol. Linda, dia de verão. Pela sua janela, o ir vir das pessoas pela calçada parecia responder a toda essa energia. Ele lá, de sua janela observava, esperando lembrar uma ou outra frase que pensara na noite anterior. Tentava lembrar:
 - Precisava escrever. Dizia pra si mesmo.
Era claro que algo havia mudado profundamente, claro como aquele Sol, límpido como aquele “bom dia”. O interdito que o perseguia era a falta da voz, do tato, do cheiro ou mesmo da visão. As pessoas andando fazendo coisas não traziam respostas pra nada. Olhava o futuro que começava naquele dia e pensava como as coisas poderiam ser melhores.  Poderia ser mais umas das pessoas que passavam de lá pra cá, só isso! Mas, não. Era do tipo estranho, nunca se conformou. Nunca se conformaria.
O quadro do Sol, da rua e o frenesi do seu movimento lhe diziam de coisas por fazer.
Enfim, não esqueceu o ultimo encontro com ela, seu ultimo sorriso. Aquele que dizia:
  -  Não sairei dos seus pensamentos, jamais.
Sem adeus.
Num dia de Sol...
Parou de ouvir Cat Power e foi andar na calçada.

                                                                                                  Van
30.12.11

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Poesia 21: Madrugada


MADRUGADA 
 
A noite escorreu fina por entre os dedos,
Não a senti.
Como o ar,
Desvencilhou-se do toque,
Da percepção,
De mim.
Se foi,
E já é quase dia.
Nenhum sol virá
Que não tenha havido antes,
Mas essa noite não houve estrelas,
Nem calor nem frio,
Muito menos amor,
Que é coisa de gente e não da noite.
Como tudo que não teve
Também não teve pássaro a madrugada,
Que me alegrasse com uma canção.
É
A noite que escorreu fina se encarregou,
De me dar um teto,
Paredes,
Porta,
Janela
Pra se demorar.
E é quase dia, e um dia virá aos olhos.
Já é quase dia e me lembro,
Que posso esquecer do sonho que não tive.
Lembro,
E que, com o sol desse dia,
Pode vir uma nova manhã.

                                                             Van.
 
             
                                 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O MAR

Do fundo do mar

Quero falar-lhes de uma coisa que vi. Pode não ser muito, nem tão pouco perfeita, mas bela – com aquela beleza que todas as coisas que são do mundo possuem – com certeza o será, e a quero dividir. Descobri o maior segredo do mar: é que ele, de tempo em tempo, se vira numa coisa diferente e cada uma mais linda. Eu digo porque vi, tinha uma hora que ele estava cor de chumbo – dormindo – guardando todos os segredos do mundo, pesado, senhor de todas as verdades que não se vão com o dia; noutra estava azul-esverdeado, sua cor predileta (pelo que deu pra notar), quando brinca com tudo que há nele; era da cor da prata quando o sol lhe esquentava com mais força e o vento fazia-lhe encrespar os cabelos num movimento de vida no cio; e, por último, da cor d`ouro, quando sua trajetória pelo dia já estava prestes a se concluir – ele era o depositário da esperança de todos os homens da terra e nenhuma mágoa ou tristeza havia no mundo que ele não levasse. 
Guardei esse segredo até agora para poder contá-lo a alguém especial num momento especial – esse encontro! 
Amantes de coisas de Pátio Interno tremei! As maravilhas saltam aos olhos como um canguru, e é melhor ver o mundo assim, subindoedescendosubindoedescendosubindoedescendo...

Van
Em algum momento de1997 ou 98 (não dá mais pra lembrar agora)

sábado, 17 de dezembro de 2011

Do profundo céu azul


O centro da cidade estava mergulhado em silêncio naquela madrugada. A rua molhada absorvia o som de seus passos. Eram muitas quadras até a coberta do ponto de ônibus no qual se protegeria da chuva fina até que o primeiro coletivo passasse, lá pelas quatro e meia. As vezes assobiava, gostava de música. Deixara o trabalho cansado, vazio. Não era filósofo, era claro. Porém, sabia o que significava sê-lo, apesar do pouco estudo. Nessa condição, pensava, e pensando deduzia: algo estava errado no mundo. E mesmo erradas, as coisas seguiam. Como ele, que seguia de qualquer jeito para o ônibus que o levaria pra casa, para o merecido e forçadamente adiado sono. Leve e profundo, tudo, menos tranquilo, antes de acordar no dia seguinte e começar tudo outra vez.
Já não era tão jovem, apesar de se acreditar com forças pra fazer coisas que muitos “mais jovens” não conseguiriam... Tinha uma garota, pensava tê-la, ou, acreditava tê-la tido. Naqueles dias de tanto cansaço, muito mais do que o normal de uma vida inteira de desassossegos, não sabia mais se o que sentia pela garota que via de vez em quando no seu bairro, ainda era ainda algum tipo de afeto. Lembra com dificuldade, em meio a tanta coisa por fazer e contas vencidas como havia parecido fácil a ideia de ter alguém em algum momento. Nesse deslumbre fugaz, também lembra, que quase enganara a realidade, acreditando que podia ser feliz.
Moravam perto, frente a frente, numa periferia distante, só lembrada dos noticiários de crimes do meio dia e das piadas de sentido duvidoso, sobre a ausência dos maridos durante o expediente, quando deixavam sós suas esposas.
Na ruela em que moravam, dessas de vilinha, naturalmente feita de dezenas de casinhas, porta e janela, longos e estreitos corredores entre muros, mal passando duas pessoas, que levavam, através de um labirinto, a mais casinhas. Lugar de meninos sem pais, no meio da rua, água escura no meio fio e uma infinidade de varais com lençóis, coarando, recém-lavados a esperar a ajuda de algum vento.
Conheceram-se nessas idas e vindas de ônibus, mesmo horário, caminhadas sem motivação, passos sem graça, rumo ao trabalho, às vezes de volta pra casa. Aos finais de semana, nas horas de sol ameno, sempre via sua garota à janela a fitar o céu, contemplativa, parecia ter no firmamento seu cinema, e nas horas mágicas da tarde, seu melhor filme. Ele também lembra que pensou um dia numa tarde de domingo: Ela parece saber de algo sobre algum tipo de mistério do mundo, um algo que ele nunca saberia, um algo que em sua vida seria sempre um vazio.
Apesar de forçar a mente, hoje o cansaço não permitia lembrar nem o quando, nem tão pouco, o como, um dia, criou coragem para falar com ela. Como não tinha assunto, perguntou-lhe sobre o que ela gostava de olhar no céu. Sua resposta o surpreendera. Ela disse-lhe que o olhava atrás de alguma resposta pra tudo, para o vazio e a dor que trazia consigo. Dizia-lhe que entendia que havia alguma mágica acontecendo quando as luzes mudavam e nuvens se transfiguravam de brancas em rosa e finalmente desapareciam rubras com os últimos raios de Sol. Também gostava das mudanças de fase da Lua. Tornava-se menina de novo, quando da Lua cheia.  Por isso, se acostumou a olhar o céu, acreditava na mudança.
Ele não acreditava em muita coisa, ficou fascinado pela narrativa da moça, juventude e leveza pra ver as cores mais simples, pra compor a realidade em detalhes fascinantes e em meio a tudo que parecia banal, fruto de algum descaso do caminhar do mundo. Apesar das diferenças conversaram ainda por muito tempo, muitos dias, suas tardes se encheram de algo mais que a previsibilidade de suas vidas poderia supor. Preencheram-se de um frescor impossível ante as impossibilidades e privações. Tornou-se leve com ela, nunca havia caminhado tão levemente para o ônibus. Nunca sentira tanto prazer em voltar do trabalho. Talvez voltar com ela no mesmo coletivo, certamente a alegria de passar em frente à sua janela.
Mas há tempos já não via sua menina, ela não mais o procurava em casa e a parada de ônibus onde costumavam se vir no mesmo horário, há muito estava vazia. Durante um tempo Foi fácil entender que, como as cores do céu, a vida muda, sua garota mudara com elas. Não estava mais lá, sua casa fechada há dias dizia da inexorabilidade das coisas, dos segredos irreveláveis, dos porões onde dormita o indizível, nos quais se forma o inconfessável,  que se junta aos mistérios que ela tanto prezava. Suas reservas eram como o céu, tão extensas quanto inexplicáveis, instransponíveis.
Deu-se conta que ao contrário de sua vida previsível de duas ou três coisas extremamente banais, quase nada sabia sobre ela. Seu silêncio durante tanto tempo agora gritava um sentido que não podia suportar. Os dias se somaram e se tornaram meses e as ausências se explicavam agora com detalhes que nunca esperara conseguir juntar em sua mente, a mecânica da mudança era autoexplicativa, não carecia das últimas palavras que ela lhe dissera entre algumas cócegas e gracejos. Era óbvio agora que falava das histórias de coisas que não participara e de uma alegria jovial impossível de conter.
Depois de tudo, fez um balanço. Da vida restaram-lhe dois empregos, as caminhadas solitárias pela madrugada para pegar o coletivo de volta, algumas músicas na cabeça, o bairro distante e umas tantas coisas interditas e agora inúteis, pairando em sua mente intranquila. Aprendera um pouco sobre esperança, e a sorrir de vez em quando, mas mesmo assim, tinha a certeza que não veria mais a garota do outro lado da rua. O pote vertera-se, fez-se finalmente o último desencontro.
Lembra que ouvia uma música que vinha de algum lugar distante quando parou de pensar sobre tudo. Let It Be... ou seria A Day in the Life...
                    


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Let's Rock - Think I'm In Love (Beck)


Não pude deixar de pensar enquanto ouvia essa música: o novo sempre vem! Bem vindo e que venha com tudo! Que seja dessas novidades que obscureçam todos os efêmeros e inúteis pesos de nossas vidas. Em 15/12/11: ou não... rsrs
Boa quarta feira.
Curtam!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

POESIA 20: Pensamentos de viés e além de uma sexta de sol

Manhattan - Wood Allen

Pensamentos de viés e além de uma sexta de sol

Encontrei um caminho onde não esperava
Me perdi de novo, onde mais me acho
Me reviro além do passado
E checo que tudo está bem
E nos futuros que invento
Não vejo nenhuma calma
E sim reviravoltas,
Devaneios,
Delírios,
Nenhuma regra,
Certamente paixão
Talvez amor 
Mais um tanto de poesia
E taquicardia
Quer saber?
Gosto disso!

Vem comigo?


                        Van
                         25/11/11

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

POESIA 19: UM BOM DIA!

UM BOM DIA!

Hora de dizer-te bom dia
Procurar um lado da cama pra onde rolar
Qualquer um, desde que caia ao final
Dizer um bom dia pro sol sépia
E não mais pra você
Dizer-te de manchas no teto
Umidade, musgos
De dentes encardidos e hálito acre
Dizer-te:  bom dia meu amor.
Mesmo que pro vazio
No qual só coisas ridículas contam
Nem passado, nem futuro
Turvo, rápido, vil, tenso, velado
Escancarado no esforço de ser feliz
Cínico na lida de viver
Deprimido como esse bom dia
Sem mais flor do dia
Sem alegrias
Mas pleno
Nas coisas que deixei por fazer.

                                                         Van

PS: Um bom amigo me disse uma vez _ Você não sorri tanto assim.
      Acho que agora acredito.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Kiwi!



Kiwi é uma ave. Na animação que segue, uma ave fofa, fofa e suicida. De qualquer forma, ele é do tipo que segue seus sonhos até as últimas consequências e contra todas as probabilidades. Bem, Kiwi sonha que voa. Isso deve bastar.
Curtam!

sábado, 3 de setembro de 2011

Poesia 18: Deite


Redesenho - Jared Domício (jareddomicio.blogspot.com)



DEITE

Deite seu peso em meu colo
Fique comigo
Experimente de perto meu desespero
Tente ver por dentro dessa escuridão
Seu cheiro tem algo de medo
Seu medo, algo de você
Ainda lembro
Agarro-me a isso
Com a força de uma relutância infinita
Não posso dizer-lhe mais nenhuma verdade
Talvez só reste uma
Só a dor é real
E toda poesia é falsa

03/09/11

Ps: É noite de desaniversário

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Bonifrate: um futuro inteiro



Disco bacana do Bonifrate, Um Futuro Inteiro. Excelentes letras, boa poesia. Musicalidade delicada e desafiadora. Vocês devem lembrar de Bonifrate da trilha do filme Apenas o Fim. Pede um bom vinho. Pode ser hoje, que chove lá fora e a noite de quinta ganha contornos de domingo...
Algo delicado, inexplicável, perdido em algum tempo no passado ou no futuro, tudo incerto, nostalgia e poesia sem fim.
 
No fundo do mar 
Jazem todos os tais naufrágios 
Frouxos adágios 
Dos corações


CURTAM!

Naufrágios

Na casa de Val, lá na beira do rio, eu ouvi da estrada uma freiada de bicicleta e me lembrei de vocês. 
Mas não tem nada de nostalgia, não! 
Afino e só invento o tempo 
Que só eu sei como passa 
E anéis de fumaça 
Em formação perene 
Mas não me encene 
Um amor assim sem se acabar 
No fundo do mar 
Jazem todos os tais naufrágios 
Frouxos adágios 
Dos corações

quinta-feira, 17 de março de 2011

Poesia 16: Dentro dos teus olhos


Van Gogh: Sun Flowers
Dentro dos teus Olhos

Quão fundo olhei dentro dos teus olhos
Pra encontrar uma imensidão de dobras,
Cores e sombras.
Amor, tu dissestes
De um tempo onde nada fazia sentido,
Que me querias.
E tua luz arrancou-me os olhos.
As órbitas vazias,
Alegrei-as com flores,
As mais vivas e coloridas.
Mas o tempo morde
Mesmo as flores desbotam.
Minha mente errática
A sua, indo.
E a liberdade virou um salto no vazio:
Às cegas, de costas pra tudo, pra cima, pra antes
Pra dentro
Em meio a um colorido de sombras, e sons de futuros incertos
Esgueirando-se da lembrança e de sentimentos
Arrancou-se toda a pele.
E assim, pulsante, em sua nova carne viva
Deitou suavemente sobre o corpo nu,
O sangue de que são feitas todas as cores
Do amor.

Van

sábado, 12 de março de 2011

Poesia 15



Outro Carnaval que Acaba
                                                      
De quantos finais são feitos um querer?
De quantas maneiras não me deixei dizer?
E de quantas outras não sonhei,
Junto?
Talvez o lado mais certo de tudo seja o avesso
Nele há um aceno não visto,
Uma ligação perdida,
Um sorriso congelado,
Uma vontade secreta,
No tempo
Dos quereres de que são feitos os finais
Ficam sim sonhos e coisas que não passam
Ficam dores e desmantelos
Ficam flores e segredos
Os cortes profundos de onde brota poesia ruim
Que seria da poesia sem finais?
E do mundo sem Pierrots?
Óbvio,
Um lugar mais feliz!
A estrada apenas segue 
E o carnaval que nunca veio,
Apenas acaba
Mesmo
Ainda que com música e poesia


                                                                          Van



PS: bom FDS!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Poesia 14: MINGUANTE



MINGUANTE

É lua minguante.
a estrada se perde
no seu próprio correr.
É grande a noite,
ando só pelo extenso
e é só pó
e mato escuro.
Indo pela sombra,
piso e me entranho
entre cobras e aranhas no meio de folhas secas
e penso:
sonham as cobras?
Os insetos, todos os bichos peçonhentos?
Eu não.
Rio-me, quase acredito
na minha própria piada.
Mas continuo e crio um delírio:
uma velha feiticeira,
a essa hora,
Já se faz ver no tronco seco tombado.
Gargalho! Eco.
Só sonho da estrada,
Só alegoria do caminho,
Das cortinas do acaso
Que descortinam esquecimentos.
Passos ermos e lentos,
O caminho me desfaz.
Não sem dor, não sem um meio sorriso,
coleções de despedidas e poesia ruim.
Enquanto isso todos dormem,
o mesmo conto de fadas,
que não vejo pelo caminho.

                                              Van

domingo, 30 de janeiro de 2011

Poesia 13: Em Cada Momento que Te Desejei

Milo Manara
Em cada momento que te desejei, colhi uma flor pra te dar
Em todo desvairo, não via, um jardim se desfazendo
Cada contorno e cada cerca, tudo quedava
Num outono prematuro
Dentro de mim, onde não brilhava o sol, onde nada crescia
Onde te sentia
Ao longe
Em cada flor colhida
Em uma promessa e um suspiro, um alívio e uma agonia
Falta de ar, falta de chão
Amar era ter as rosas e atravessar-me de espinhos
Quase uma canção triste de mil alegrias perdidas
E promessas inalcançáveis em sonhos de criança
De cada momento que te tive quedei-me em não saber onde ia
Em cada flor colhida do jardim que pisei
Matava parte de mim enquanto já não mais te sentia
E ao longe, tua beleza declinava, quando eu não mais te via
Sem euforia,
Sem desespero,
Sem flores,
Sem espinhos,
Só.
                                                                     


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Poesia 12: Era um Cara Qualquer

Gostei do "Don't try"!



Era Um Cara Qualquer


Já sabiam, não queria muita coisa
Pouco sabia do amor
E sua dislexia o impedia
De compor frases mais complexas
Coisas bestas
Sabia que não podia ter futuro nenhum
E por isso sobrevivia
Sem insistência
Parou um dia de pensar na vida
E desapareceu em meio a uma noite qualquer
Com uma última garrafa na mão
Menos mal
Sua vida era como a linha do meio-fio
Que sumia quando encontrava o bueiro
                                                              Van

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poesia 11: Complicadice


Guardo um segredo,
Revelar apenas as bordas:
As sombras da imensidão,
Dos mistérios de coisas ínfimas,
Meus dois mil desatinos
E alguns desafetos.
Ser um sujeito normal
Na minha esquisitice.
E desfazer as certezas em mais mistérios,
Pra assim guardar,
Dentro de mim
Um mundo.


Van
11/02/99

domingo, 9 de janeiro de 2011

Poesia 9: Corações de Pedra

                                                               Imagem do filme The Squid and the Whale



CORAÇÕES DE PEDRA



Corações de pedra sem
Suspiros frente ao passado
Ordens desfeitas quando
Menos por vontade
Algo se mexia e
Violentamente
Se dissolvia
Na tela de suas vidas

Menos verdades
Mais desejos, gostos apurados por nada
Num ímpeto, um salto até aqui
Pulando o passado
Revertendo os sentidos do presente
Acumulando votos de incertezas
Para o futuro

Negligências preferenciais
Formam corações de pedra
Os sorrisos mais intensos
Não remetem a nenhuma glória
Pobre imagem a que ficou
Um espelho frente a outro
E nenhum dos dois se vê

Sonho em preto e branco
O futuro acena finalmente
De través
Pelos cortes nas mãos e dos calos na vista
Do que não se vê
Do que não será jamais
Das coisas improváveis e inauditas
Palavras de amor esquecidas e desejadas
Em segredo

Corações de pedra e cimento
Desassossego em cinza
Pelo que se foi
Revolução silenciosa
Pelo que virá


                                                  Van

                                                     05/05/2001