terça-feira, 22 de maio de 2012

De Salas e Varandas Vazias: um registro



Depois que suas últimas caixas foram levadas para o carro de mudanças ele ficou um tempo parado à porta da saída, sozinho, observando a agora vazia sala de estar do seu antigo apartamento. Durante aqueles últimos anos vira sua vida sendo inscrita ali. E quase sem nenhum esforço, podia reviver cada primeira cena, como também cada última. 
Além da sala, sua visão percorria a varanda, a cozinha, o quarto. O silêncio e o vazio de agora não eram compatíveis com os sorrisos, amores, alegrias, esperanças, dores, tristezas, chegadas e partidas que se desdobraram entre aquelas paredes. 
Na varanda já não havia mais a redinha, da qual obervara as estrelas tantas vezes, em noites tais que o som do mar parecia reverberar dentro de casa. 
Na cozinha nenhum cheiro de um prato especial feito para cada ocasião única, sempre como ritual, no qual o sabor demarcaria as expectativas de prazer do que viria. 
O quarto já não trazia o estimulante frescor da aventura, do gozo, da descoberta e do sonho (mesmo os breves, os vãos e os desfeitos). O vazio e o silêncio de agora não faziam justiça a tudo que acontecera ali, a tudo que se perderá inexoravelmente frente ao futuro. 
Fechou a porta. Já no hall, resignado, parou por alguns segundos e pensou o quão impossível seria dividir tudo que pensara naquele breve momento. Quis ligar para alguém, mas seria inútil. Pensou em escrever algo, apenas para desistir imediatamente. Quis chorar e se sentiu incapaz. Fez a única coisa que podia frente a tudo aquilo, seguiu e tomou o elevador para a portaria. 
Aquele lugar já não mais lhe pertencia. 


21.05.12

3 comentários:

  1. Os espaços que ocupamos, por onde passamos ou que em algum momento pretendemos ocupar, mesmo que de forma passageira, nos deixam marcas, boas ou não, mas compõem nossa identidade...e viva ao próximo passo, viva aos velhos e novos momentos, viva a vida que passou, que vivemos e tudo o mais que ela trará. As lembranças você levará para sempre, independente de onde estará. Todos nos levaremos boas lembranças, pois, são as que valem a pena serem lembradas.

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  2. Sem dúvida ficarão boas e memoráveis recordações desse lugar. Uma ressalva; ele não é antigo, é bem recente. E se essas paredes falassem nessa sua despedida... Ô! mas é daqui pra frente e agora, de verdade, de propriedade sua e com muitos outros sabores, amores... que venham os novos tempos acompanhados de muitas alegrias!

    Te vejo logo mais, para comemorarmos tudo isso, esse momento fenomenal e único.

    Te amo!

    Ana Luzia

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