quinta-feira, 28 de junho de 2012

Parada Súbita

Parou de súbito. Quando seu tempo passou não teve a chance de olhar dentro do espelho o que tinha vivido. O espelho havia sido quebrado, as fotos rasgadas e em breve estariam esquecidas. Findo o tempo, não sentiu mais cansaço, não havia mais nervo que respondesse à expectativa do ato. Na última esquina, da última rua, não havia nada. Sob a luz tremeluzente do poste ainda conseguiu acender um cigarro. Sua companheira se fora. “Péssimo isso tudo”, pensou. História que se repete, níveis de drama que se sobrepõem, virou tragédia, e da tragédia, o absurdo. Uma sequência havia sido quebrada ao confirmar que nada dura, a ordem do mundo beirava o caos das cólicas que assolavam seu estomago. Tragou aquele cigarro com a fúria de quem sabe viver seus últimos minutos. Há muito sabia que não viveria o bastante para ser grande coisa, mas tratou o saber como coisa de poeta e esforçou-se nas artes de viver com empenho, mas sem convicção - seu teatro divertia a muitos e o convencia que amanhã as coisas seriam melhores. Bobagem! Não foram, era sua vez. As dores que lhe corroíam as entranhas o derrubaram pela última vez. Ficara parado para sempre fitando o chão, como aquela imagem da moça bonita na página policial, congelado, como que ambalado num fino vestido azul de chuva.

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