segunda-feira, 6 de agosto de 2012

No Espaço

Van Gogh -  Starry Night

Havia uma brecha no tempo naquele terraço à noite. Sob a luz intensa daquela Lua cheia, algo na rotação da terra se alterou, gravidade, tempo, magnetismo. Linhas de força a muito em vibração recôndita, se estilhaçaram frente à tamanha solicitação de algo que não podia mais ser adiado. Quando os braços daquela moça morena se acomodaram ao redor do pescoço dele também a atmosfera e todo o ar do mundo pareceram desaparecer. Enquanto ele delicadamente afagava seus cabelos, sentia que a luzes da cidade ao longe, se dissolviam em borrões amarelos, não precisava mais enxergar. Via demais naquele momento de olhos tão cerrados. Via pelo cheiro dela, olhava através do toque suave de suas mãos, vislumbrava pelo retorno firme ao contorno de músculos, ancas, quadris que se queriam ali, apenas serem consumidos por um abraço sem fim. E se beijaram. Permaneceram assim num só contínuo, na noite a qual  tudo saiu de órbita e pareceu apontar uma razão para estar, mesmo sem entender, mesmo sem pensar em amanhã, mesmo que o som de sua respiração ofegante dissesse que, nada mais importava, além de ir-se naquele suspiro profundo onde suas bocas procuravam desesperadamente achar tempo onde nem ar existia. Queriam encontrar mesmo o quê? Antes do fim da noite se foram. Alguém apostou que voltariam ali um dia. O Universo perderia novamente seus azimutes e se acharia. E outro alguém, que soube disso já como lenda, muito tempo depois, garantiu que havia apenas eles ali e que se acharam. De algum apartamento nas redondezas aquela música tocava novamente, Let It Be... Sempre ela, desde sempre.

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