domingo, 9 de setembro de 2012

Sobre Cartas e Erros

Praça Rio Branco, João Pessoa-PB

Naqueles dias a garota de riso fácil e olhar faiscante, com jeito de sambinha no fim da tarde de sábado, estava distante e triste. Pelo que via, quando ela passava pela rua, havia algo diferente, como se naquele momento a vida houvesse tirado repentinamente aquele rock que parecia tocar no fone de ouvido invisível que sempre a acompanhava e que transformava sua passagem em clima de festa. E assim, nessa seriedade, o momento do encontro com ela, parecia agora algo sério, soturno como um blues, dolente de tão lindo, pois que até a tristeza, era capaz de inspirar quando ela chegava.

Havia algo errado. Não, aqueles encontros já não correspondiam ao que seria razoável esperar de tanta alegria que seguia até pouco os passos dela, daquilo que fazia sua assinatura, mais, o rosto mais feliz quando dizia alto o nome dele. Mas ai estava o problema, ele não sabia, mas a vida não era assim tão razoável. Certa noite ele já havia experimentado uma pequena porção das formas desconcertantes através das quais a realidade pode dar diversos olés nas nossas expectativas e dizer ao que veio de uma forma absurda. Mas não daquela forma, era demais! Não da forma como os fatos foram expostos a ele e do que pôde entender daquele bilhete lido tão tarde da madrugada, quando chegava bêbedo de algum bar.

As repetidas leituras das mesmas parcas linhas não ajudaram a esclarecer nenhum sentido, e pensava: “aquilo não podia estar acontecendo com ela!” A cada frase do que podia ser dito em um espaço tão exíguo, pensava nos dias que ela ainda passará sobre efeito daquelas circunstâncias.
Queria falar-lhe, mas não tinha como chegar até ela, pensou em escrever-lhe e aventurou-se numa carta na qual ficasse claro seu apreço, preocupação... Enfim, todos os adjetivos que podia agrupar para falar-lhe daquele amor instantâneo quando ela cruzava a praça, no momento que parava e acenava-lhe como se lesse seus pensamentos.

Queria aquele sorriso no rosto dela novamente. Ansiava por conseguir escrever uma carta pra moça de ricos lábios carmim que dissesse as coisas certas, as flores e estrelas cadentes que acompanham as missivas inesperadas e que nos falam de mundos atrás de mundos, e da necessidade que ela estivesse de volta e que a convencesse de que as dores e sustos do mundo não passassem apenas de “PS’s”, para lembrar que o mais importante já havia sido dito nas linhas acima. E que o mundo erra, e que às vezes os “mesmos erros” são as repetições involuntárias de coisas que já não nos dizem mais repeito.

2 comentários:

  1. Vanvan,

    A luz da praça, nesta foto, dá um tom de nostalgia, de saudade e até de tristeza. Tristeza da ausência de um sorriso, da falta de alegria momentânea. E o amor é isso, a tentativa de resgate "para lembrar (...) que o mundo erra e (...) e são repetições involuntárias de coisas que já não nos dizem mais respeito". Bonito isso.

    Dimas Lins

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