sexta-feira, 6 de abril de 2012

Vodka



Não ouvira seu adeus na despedida. A partida fora em silêncio numa madrugada em que a rua dormia um sonho que não era seu. Ao amanhecer uma escova de dente sobraria para sempre sobre a pia. Um vidro de perfume nunca mais seria aberto e um bom dia não seria mais ouvido. Não haveria recado nenhum, nem de batom, nem bilhete, nada fora do lugar, nada faltando, além daquele cheiro, daquele jeito. Mas sobrando, aquela falta, aquele espaço interminável do apartamento que se fazia ao mar, que morria na praia. Primeiro sol, primeiro dia, um café e um motivo pra escrever. Espalhar tinta pelo papel como quem canta um blues engolindo as letras, engasgando com sons que não podem mais serem ditos. Se esforçando a cada passo, pra chegar ao dia que tudo seja apenas saudade e, mais além, esquecimento e a vida pra levar. Feliz? Apagara essa noite da memória com uma boa garrafa de vodka. Estava tudo bem.