quarta-feira, 13 de março de 2013

Um turno a mais


Chegou do seu turno ao final da madrugada. Ela estava, como sempre, acordando pra ir trabalhar, pegar o primeiro trem. Tomaram café da manhã juntos, ele trouxe o pão da padaria que ainda mal abrira. Quentinhos, o pão, o café, as mãos entrelaçadas. 

Pouco se falaram, parecia que a falta de tempo, o cansaço, a saudade impediram todo o resto. Apenas se olharam, assim, de mãos dadas, braços estendidos através da pequena mesa branca de fórmica. Não puderam demorar-se mais. Já à porta, um beijo rápido, intenso. Um beijo de saudade, de paixão, resignação e revolta, hora do adeus, hora de perder um amor para o mundo. 

Já no trem, apertada entre centenas de outras almas vendidas à vida pra levar, lembrou-se, hoje fazia três anos que se conheceram. O trem seguia rápido rumo ao Centro, devorando cenários de uma periferia sem sonhos, casebres de zinco, muros sujos, terrenos baldios e córregos esquecidos – mau cheiro. 

Adoraria poder ir ao cinema com ele naquele dia.

Um comentário:

  1. lindo, real, sensível, das coisas que a gente vive, treme, reclama e elucida.

    ResponderExcluir