terça-feira, 1 de abril de 2014

Evoluções de Carnaval


Ela acordou com espírito de samba. O carnaval irrompia através das venezianas do apartamento e a semana no fim. Ela resolvia cada um de seus afazeres com a pressa de quem achava que veria o fim do mundo, ao mesmo tempo, com a lassidão própria dos que já se achavam espraiados no tempo mágico do desperdício momimo. 
Agora, emergencialmente, era partir para o trabalho nessa sexta feira. Antes, porém, regar suas plantas, colocar comida pro peixe e torcer pro tempo passar rápido, se necessário pendurar-se nos ponteiros pra horas amolecerem e sair pra bailar. Antes das cinco já deixara o trabalho, correu pro Beco da Ladeira no bairro antigo. 
O bloco estava se organizando, primeiras cervejas e acordes da banda. O cordão fora gestado durante anos com a maior preguiça, estava saindo pela primeira vez. Ela Levaria o estandarte. Entre detalhes em rosa, maquiagem brilhante, batom vermelho e o sorriso maior do ano, ria-se de todo o povo feliz, especialmente do moço bonito que saltou em sua frente durante sua evolução. 
Não havia mais nada em si que contivesse o que a alegria poderia trazer. Reencontrou o mesmo rapaz em outra dança mais tarde. Terminaram a primeira noite de carnaval de corpos entrelaçados em meio à multidão. 
Não havia lua no céu. Não há lua no Carnaval. Nem precisava, em sua cabeça giravam os versos de Gabriela, “Chega mais perto moço bonito...” . 
Bastava-lhe.

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