quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Não Lugares (conto)


A porta da sala se fechara há pouco. Tomava uma última taça de vinho na varanda, encostada no parapeito.

Enquanto olhava para suas plantas, esperava uma resposta para os dilemas de seus descompassos afetivos. Queria que seu coração se tornasse prático, assim como ela era a maior parte do tempo com suas obrigações. Parecia não haver jeito. Essa noite era prova disso.

Eles se deviam essa fala, esse olho no olho, esse mergulho no desejo, insolúvel em um meio que não fosse o das relações imaginárias. Durante alguns momentos naquela noite falaram como ia vida. Entre um caso e outro ou uma confissão, foi-se uma garrafa de vinho e alguns cafés.

Nesse reencontro não tocaram no que os fazia querer estar ali e evitaram cuidadosamente suas antigas diferenças, como também, mais ainda o que parecia os unir. Cuidado apenas traído pelo riso bobo no qual se viram envolvidos, revivendo algumas piadas antigas e batidas.

Abraçaram-se longamente na despedida. Novamente aquele beijo perto da boca, a medida do não lugar, do que talvez nunca tenha estado, do que talvez nunca estará. Do que deveria ser.

Tudo o que parecia dizer aquela música antiga e com melodia triste, que estava no CD que ele lhe gravou como recordação.

Depois que ele saiu e a música terminou, fez-se um silêncio para o qual ela não estava preparada. 

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