terça-feira, 4 de novembro de 2014

A Nova Colega (conto)

Carlos León-Salazar

Chegara à empresa bem referenciada, seu currículo se fez antecipar pela chefia. Vê-la lhe deu a sensação que não haveria porque querer trabalhar em nenhum outro lugar do mundo. Ela era de outro setor, e, decepção, no início pouca convivência.

Mas a pausa do café tornou-se um momento mágico. Ela amava café.  Ficou mais fácil, disse depois que tinha uma dessas máquinas importadas de café expresso. Os cafés eram a chance de dizer um olá, derreter-se mirando furtivamente seus olhos. Perguntar, titubeante, qualquer coisa sobre música ou cinema. Sorte, não era do tipo que curtia coisas fáceis, nada de música de barzinho. Viu o último Wood Allen no cinema. Enquanto isso ele se contorcia para não se deixar perceber capturado pelas sardas que cobriam seus ombros, expostas pela generosidade do decote que caia displicentemente pelo braço.

Algum tempo depois, passaram a almoçar juntos, o primeiro cinema, a primeira ida à casa dela. Nunca esqueceu a noite na qual ela disse que ia embora. Usava uma t-shirt branca dele com o Yellow Submarine, nada mais. Caneca de café à mão. Os olhos dela ganharam um tom de verde-fim, ou verde-outono. Não importa muito, o daltonismo não o deixava perceber a nuance. Mas algo dizia que não haveria outra vez. Essas coisas são óbvias. Sempre são.

Faz uns seis meses que ela deixou a empresa e a vida dele.
Mudou-se para o exterior numa daquelas viradas impressionantes de pessoas dispostas a desafiar a si mesmas, não se importou com a relativa estabilidade financeira que tinha. Ele não teve mais notícias dela.

Até hoje, quando lhe chegou um postal dela de um país distante.

2 comentários:

  1. "Mas algo dizia que não haveria outra vez. Essas coisas são óbvias. Sempre são."
    Annie

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  2. Annie,

    Pois é, algo lembrou-me Manu Chao: "Je ne t´aime plus mon amour.
    Je ne t´aime plus tout le jour".

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