quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Skrotes - Summertime

Segundo post com a banda aqui no blog.
Acompanha uma nostálgica viagem em imagens aos anos 1970.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Air - La Femme D'Argent

Comemoração (conto)

Foto: Antonio Lacerda / EFE
A praça estava lotada de bandeiras vermelhas. Todas as pessoas ansiosas pelo início da apuração. Ele chegou cedo, ainda com um pouco de sol da tarde. Andou um pouco pra lá e pra cá, não viu ninguém conhecido, pensou que talvez seus amigos tivessem ido para outro lugar acompanhar a contagem. Era mais um talvez naquele dia incerto. Ninguém lhe ligou. Nada de mensagens. 

Comprou uma cerveja e sentou-se no banquinho da praça, ao lado do quiosque. Chamou-lhe a atenção uma moça bonita que ia e vinha. Inquieta, grande sorriso, sabe lá de onde vinha e para onde ia. O tempo passou a apuração seguia, o voto a voto apertado extraia dos rostos uma expressão de quase desespero. Acompanhava pelo telão o desenrolar dos números.

Displicentemente olhou para o lado e viu a mesma garota de algumas horas atrás. Cabelo castanho escuro profundo, discreta franja. A longa tattoo de finos traços orientais no braço contrastava com a pele branca e os pelos escuros. Mesmo diante da preocupação do momento, o sorriso dela parecia maior, realçado pelo batom vermelho.

Vê-la retirou-o instantaneamente de sua quase letargia depois de tantas cervejas. Ela segurava uma grande bandeira vermelha. Também o olhou. Falou-lhe algo sobre os números do escrutínio, ele concordou. Trocaram mais algumas opiniões rápidas sobre qualquer coisa. Súbito, no telão surge o resultado final. A explosão de alegria da vitória mescla-se com gritos e uma vertiginosa antecipação do carnaval. Eles também pularam. Abraçaram-se e pularam mais. A bandeira dela foi ao chão e eles se beijaram. Demoradamente, exorcizando todas as angustias.

Com a cidade ainda adormecida, viram as primeiras luzes da manhã deitados de mãos dadas no gramado da praça. Ela pegou o primeiro ônibus. Ele seguiu a pé. Prometeram-se rever. Tudo tinha um clima de primeiro dia. O cheiro dela no seu braço. Era ano-novo outra vez.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Não Lugares (conto)


A porta da sala se fechara há pouco. Tomava uma última taça de vinho na varanda, encostada no parapeito.

Enquanto olhava para suas plantas, esperava uma resposta para os dilemas de seus descompassos afetivos. Queria que seu coração se tornasse prático, assim como ela era a maior parte do tempo com suas obrigações. Parecia não haver jeito. Essa noite era prova disso.

Eles se deviam essa fala, esse olho no olho, esse mergulho no desejo, insolúvel em um meio que não fosse o das relações imaginárias. Durante alguns momentos naquela noite falaram como ia vida. Entre um caso e outro ou uma confissão, foi-se uma garrafa de vinho e alguns cafés.

Nesse reencontro não tocaram no que os fazia querer estar ali e evitaram cuidadosamente suas antigas diferenças, como também, mais ainda o que parecia os unir. Cuidado apenas traído pelo riso bobo no qual se viram envolvidos, revivendo algumas piadas antigas e batidas.

Abraçaram-se longamente na despedida. Novamente aquele beijo perto da boca, a medida do não lugar, do que talvez nunca tenha estado, do que talvez nunca estará. Do que deveria ser.

Tudo o que parecia dizer aquela música antiga e com melodia triste, que estava no CD que ele lhe gravou como recordação.

Depois que ele saiu e a música terminou, fez-se um silêncio para o qual ela não estava preparada. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

The Cotton Jones Basket Ride - Chewing Gum

Pequenas grandes coisas perdidas no meio de tudo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Sutilezas


Morreria pra sempre. 
A morte não seria má.

Fernanda Meireles

terça-feira, 7 de outubro de 2014

domingo, 5 de outubro de 2014

Embarque (Conto)


Aqueles estavam sendo tempos difíceis para ela. Entre as coisas que teimavam em não dar certo, suas contas vencidas e o dinheiro pouco do novo recente trabalho, tinha na cabeça apenas a certeza de que tudo aquilo seria passageiro. 
Roupa de dormir e uma xícara de chá. Colocou para tocar uma trilha de filme que seu pai ouvia quando ela ainda era criança. No clima nostálgico e embevecido pela música pensou em seu sonho da noite anterior, no qual tudo era diferente, e ela contava para um atento rapaz de olhos ternos que conhecera há pouco, o quanto tinha certeza que algo maravilhoso estava para acontecer. 
Na manhã seguinte ao chegar ao trabalho abriu um e-mail do mesmo rapaz, perguntava por ela e se poderiam se ver novamente. No final de semana combinaram um encontro. Foi um curto e intenso romance. No mês seguinte pediria demissão, entregaria o apartamento e cruzaria o país. Iria resolver seu sonho em uma terra estranha. 
Ao rapaz no aeroporto jurou nunca esquecê-lo. Agradeceu a ele por naquele sonho tê-la ouvido, beijaram-se pela última vez e ela se perdeu entre as outras pessoas por trás do portão de embarque. 
Hoje, depois de tanto tempo, ele tem quase certeza de que tudo aquilo não passou de um sonho. Dele.