sábado, 31 de janeiro de 2015

E Se Devoraram

Arthur Leipzig - Subway Lovers (New York, 1949)

Naquela noite dançaram livres como da primeira vez que pensaram na possibilidade de ter um ao outro. A cada volta, seus rodopios os levavam além do limite já quase nulo que havia entre eles. Em meio ao tempo acelerado pela tequila chegaram ao ponto onde sabiam, teriam suas vidas postas ao avesso por eles mesmos. O cheiro do suor dela, a nota amadeirada do perfume dele. Em uma frase perdida, sussurrada, ela tentou articular um sentido qualquer pra tudo que sentia. Queria um atalho, um precipício, uma justificativa para lançar-se para dentro dele, para mais profundo naquilo que a queimava por dentro, que a fazia querer suas entranhas. Uma mordiscada de leve na ponta da orelha dela. Não precisavam dizer nada. Quase em silêncio se devoraram.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Paula Tesser - Pode Me Torturar (Eliane)

Pode me torturar, amor. Pode me torturar...

Paula Tesser

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Último Encontro

Brassaï, 1932

Depois de algumas recusas ela aceitou revê-lo. Ele fora insistente durante as últimas semanas. Havia um tipo de angústia na voz dele, com o tempo as coisas pareciam piorar. Muito provavelmente pelos bons momentos, ela aquiesceu. Encontraram-se no mesmo café no qual se viram pela primeira vez. O lugar também fora o mesmo no qual romperam, ele insistia no poder das referências. Conversa elíptica. Ela odiava. Ele sabia estar perdendo suas últimas fichas. Ela pediu um expresso e um licor de cacau, ele apenas um carioca. Ela fumou um cigarro enquanto pairava o silêncio sobre a mesa. Não olhava para ele. Ao final ele pediu um abraço. Rasgava-lhe as entranhas o desejo de pedir-lhe um beijo. Precisava sentir aquele hálito novamente, morder mais uma vez aqueles lábios fartos que sem nenhuma cerimônia se despediam. Não pediu, manteve o último fio de dignidade. Abraçou-a forte. Blasé, ela já não estava mais ali.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Tatá Aeroplano - Par de Tapas que Doeu em Mim

Às Voltas Com o Silêncio

Anna Karina. (Vivre Sa Vie. Goddard, 1962)

Ela pediu uma vodka. Ele, uma cerveja. Longa pausa, demora infinita da garçonete. Seus olhares afiados cortavam quando pousados mais do que uns segundos sobre os do outro. Na pressa de dizer algo e preencher o espaço que inexoravelmente os ligava, esgotaram todas as rotas de escape. Veio a vodka. A long neck ele bebeu no gargalo, pequenos goles, sempre mergulhado nos olhos escuros dela, sorriso besta. Ela acendeu um cigarro apenas para brincar com a fumaça que ganhava o ar. Terminaram a noite abraçados em meio ao silêncio que os denunciava.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Banho Turco (conto)

Four Girls in Shower (Ellen von Unwerth, 1994).
Via: violadreamlover

Sonhou que estava em um banho turco. O lugar estava repleto de belas mulheres. Louras, morenas, negras. Algumas mais magras outras com curvas mais generosas, todas lindas. Andavam pra lá e pra cá nuas ou enroladas em mini-toalhas com as quais o ato de cobrir-se, ora os peitos, ora a pélvis, parecia inútil. No fundo do salão, sentada em um banco de mármore amarelo estava sua musa. Surpreendentemente estava vestida (nota: musas não seriam musas se não arredias). Usava um vestido preto curto que deixava suas pernas  à mostra. O indefectível batom vermelho intenso. Os longos cabelos escuros cobriam um dos olhos. Mesmo a distância o olhar dela o paralisou, isso sempre acontecia. Quis sair da piscina em sua direção. Dizer-lhe qualquer coisa. Tocar-lhe, sentir seu cheiro. Antes que ele terminasse de pensar ela levantou-se, virou-se em direção a saída. Novamente, sumiu em meio ao vapor. Ele tentou segui-la. Em vão.

Annie Hall (Woody Allen, 1977) - Fila do Cinema e... Marshall McLuhan

Mais do Básico.




terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Nicolas Jaar - Mi Mujer

Via: Fcukk

“Dime si tu sabes
Si has visto a mi mujer
¿Has visto mi mujer?
Por la calle
Y allá
¿Dónde está mi mujer?
En la calle
Por acá
Por allá
Por allá y por allá
¿Has visto mi mujer?”

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Estou Bem, Meu Bem

Haunt me - © April-lea Hutchinson. Via: tanyadakin
Nos últimos meses ela esperou por notícias dele. Ainda esperou porque no canto de sua boca resistia um pouco do sorriso daqueles dias. Ainda fazia-lhe bem lembrar, apesar das horas congeladas, pousadas sobre a sala de estar. Era final de ano, a medida do inesperado liberou seu sorriso para além novamente. Bem depois do mais distante destino de onde poderia vir um cartão postal extraviado. Não contou a ninguém como conheceu seu novo amor. Na resposta à mensagem de feliz ano novo de seu ex, não mais que um “estou bem, meu bem. Estou namorando”. Durante o verão daquele ano seguiu experimentando-se nas artes de surpreender-se. Estava adorando tudo, às vezes quase sentia falta das músicas que aprendeu a gostar com o antigo amor. Quase.