quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Último Encontro

Brassaï, 1932

Depois de algumas recusas ela aceitou revê-lo. Ele fora insistente durante as últimas semanas. Havia um tipo de angústia na voz dele, com o tempo as coisas pareciam piorar. Muito provavelmente pelos bons momentos, ela aquiesceu. Encontraram-se no mesmo café no qual se viram pela primeira vez. O lugar também fora o mesmo no qual romperam, ele insistia no poder das referências. Conversa elíptica. Ela odiava. Ele sabia estar perdendo suas últimas fichas. Ela pediu um expresso e um licor de cacau, ele apenas um carioca. Ela fumou um cigarro enquanto pairava o silêncio sobre a mesa. Não olhava para ele. Ao final ele pediu um abraço. Rasgava-lhe as entranhas o desejo de pedir-lhe um beijo. Precisava sentir aquele hálito novamente, morder mais uma vez aqueles lábios fartos que sem nenhuma cerimônia se despediam. Não pediu, manteve o último fio de dignidade. Abraçou-a forte. Blasé, ela já não estava mais ali.

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