segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Volta


Não dormira essa noite, caminhou desde a madrugada por muitas ruas. Depois de tanto sentou-se numa mesa de canto em um bar perto da estação central. Desses que tem um ar úmido, acre de tempo desperdiçado, azedo e sem razões. O lugar para tomar uma cerveja que ninguém espera estar gelada – e nunca está. A longa e estreita porta para rua, mal iluminava o salão. Nos fundos, ao lado do balcão, já na penumbra um corredor estreito seguia para os quartos que serviam de motel. Pensava em como matara suas crenças tempos atrás, todas, inclusive as de afeto. Não fora sempre assim, mas a juventude era uma lembrança bastante gasta, dessas que não valia a pena tentar remontar. Viu alguns casais que ora ou outra entravam e saiam. Estava velho para aventuras, a única coisa que dá alguma razão para vida. Entendia a todos que permaneciam vivos de fato. A cerveja quente naquele bar fedido confirmava que estava fora do jogo. Mais tarde voltaria para seu caminho. Definitivamente, havia sido uma péssima ideia ter voltado para vê-la.

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