segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cheiro de Mar (conto)



Ele aceitou o convite dela naquela tarde para se verem. Nada demais. Talvez um chopp, mais um papo sobre as poucas coisas que sabiam da vida um do outro. Já se conheciam há um tempo. Não iam muito além de alguns limites interditos nas perguntas sobre as vidas intimas de cada um, já sabiam o que precisavam saber desde a primeira vez que se viram. Claro, já tinham ficado antes, duas, três vezes, não lembravam ao certo. Não parecia mais ser o caso lembrar. Naquela tarde ele a pegou no trabalho. Ambos deram um jeito de sair mais cedo. Para sua surpresa ela pediu para ir a uma praia distante, não para o discreto café que sempre iam. O percurso de quase uma hora ficou marcado pelo delicioso perfume dela. Harmonizava com os movimentos das mãos, enquanto gesticulava para explicar-lhe algum ponto de vista com veemência, quando sequer ele sonhava em discordar dela. Parou o carro na areia. Pés no chão. Andaram vários minutos enquanto ela lhe falava de mudanças, decisões e inseguranças. Ele só podia ouvi-la, não havia nada que pudesse fazer ou dizer diante de tudo. Ela sabia, mas fazê-lo ouvir-lhe de alguma forma lhe dava alguma segurança. Quase noite, entraram no mar. Lá ela disse para ele que estava indo embora. Se beijaram com a certeza de ser a última vez. Ela também estava se despedindo dele. No dia seguinte em seu carro ficaram, além de toda a areia, o cheiro de mar e o perfume dela que nunca mais o deixariam.

domingo, 14 de junho de 2015