quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

No Ônibus


Autobús em Buenos Aires

Vi você outro dia no ônibus. Estava voltando do trabalho, acho que você também. Desculpa não ter falado. Nada pra tanto, pois sei que você também me viu, e não falou. Pelo menos nesse conto curto de ônibus, deixemos de cerimônias. 
Dois bancos atrás, quase dava pra sentir o arrepio de sua nuca. Seu toque nervoso da ponta dos cabelos. Longe demais para dois passos, a distância das coisas que se tornam improváveis depois que tudo mais passa. 
Queria ter visto seus olhos naquele dia, como você falaria comigo. Vi por uma fenda de dois segundos as coisas absurdas que ainda poderíamos fazer juntos antes de nos desistirmos novamente. Nesse tempo ínfimo havia a possibilidade de não nos perdermos para o mundo que nos queria felizes como todo mundo, normais como todo o resto, confortáveis sendo iguais. Não sou mais aquele. Hoje sei que você também não é. 
Você puxou a cordinha e desceu. Segui viagem. 
Quase torci o pescoço olhando pra trás enquanto você sumia.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018