Não ouvira seu adeus na despedida. A partida fora em
silêncio numa madrugada em que a rua dormia um sonho que não era seu. Ao
amanhecer uma escova de dente sobraria para sempre sobre a pia. Um vidro de
perfume nunca mais seria aberto e um bom dia não seria mais ouvido. Não haveria
recado nenhum, nem de batom, nem bilhete, nada fora do lugar, nada faltando,
além daquele cheiro, daquele jeito. Mas sobrando, aquela falta, aquele espaço interminável
do apartamento que se fazia ao mar, que morria na praia. Primeiro sol, primeiro
dia, um café e um motivo pra escrever. Espalhar tinta pelo papel como quem
canta um blues engolindo as letras, engasgando com sons que não podem mais
serem ditos. Se esforçando a cada passo, pra chegar ao dia que tudo seja apenas
saudade e, mais além, esquecimento e a vida pra levar. Feliz? Apagara essa noite da memória com uma boa garrafa de vodka. Estava tudo bem.