Jeanloup Sieff - Femme nue couchée sur un lit(1969). Fonte: AQUI |
Somente agora ela
percebeu que o tempo passou. Naquela atribulada semana conseguiu parar um tempo
em casa e ouvir seus silêncios. Eles gritavam coisas do passado, os segredos
dela, o tudo mais que aprendera a organizar diligentemente junto com a vida para
resolver. Iria casar-se em breve. Em meio à sua confusão interior apenas um murmúrio
clamava para que pensasse mais sobre tudo. Estava demasiadamente
ansiosa para admitir para si mesma a questão: “se tratava de uma solução ou de um
cadafalso? ”. Apesar do sorriso convincente que trazia nos últimos meses, suas
pequenas mudanças interiores já somavam o volume de uma grande barragem,
prestes a explodir. Deixou-se cair na cama no meio da tarde, tinha um suor frio
e abundante, coração acelerado. Com a intensidade de quem estava perto do fim excitou-se
como se fosse a última vez. Com a respiração ofegante, por alguns segundos se
viu livre, além de tudo que sempre acreditou ser a felicidade. Gritou para
dentro sua agonia, as palavras que nunca seriam ditas para ele.