Autobús em Buenos Aires |
Vi você
outro dia no ônibus. Estava voltando do trabalho, acho que você também. Desculpa
não ter falado. Nada pra tanto, pois sei que você também me viu, e não falou. Pelo menos nesse
conto curto de ônibus, deixemos de cerimônias.
Dois bancos atrás, quase dava
pra sentir o arrepio de sua nuca. Seu toque nervoso da ponta dos cabelos. Longe
demais para dois passos, a distância das coisas que se tornam improváveis depois que tudo mais passa.
Queria ter visto seus olhos naquele dia, como você falaria
comigo. Vi por uma fenda de dois segundos as coisas absurdas que ainda poderíamos
fazer juntos antes de nos desistirmos novamente. Nesse tempo ínfimo havia a
possibilidade de não nos perdermos para o mundo que nos queria felizes como todo
mundo, normais como todo o resto, confortáveis sendo iguais. Não sou mais aquele.
Hoje sei que você também não é.
Você puxou a cordinha e desceu. Segui viagem.
Quase
torci o pescoço olhando pra trás enquanto você sumia.