"DAVE BOWMAN: You see, something's going to happen. You must leave. HEYWOOD FLOYD: What? What's going to happen? DAVE BOWMAN: Something wonderful" (2010: The Year We Make Contact)
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Parada Súbita
sábado, 23 de junho de 2012
"Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga"...
"Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem"
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem"
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Cícero,
Conversa de Botas Batidas,
saudade
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Conversava através de músicas
Ela conversava através de músicas.
Disse-me meio tímida
certa vez, assim, como se contasse um segredo. Seu dia, em cada momento, era
pontuado por uma melodia cantarolada baixinho, pra dentro. Esteve apaixonada um
tempo atrás, mas só percebeu isso bem depois, nesse momento era final de verão
e as últimas chuvas de março a acompanhavam enquanto achava um saco chegar
molhada aos cantos e não poder ir à praia. Esteve apaixonada um tempo atrás,
fora tão rápido, como outra música que conta estórias breves de pessoas que se
perderam de si mesmas, e se acharam em finais sem finais. A música que
cantarolava era mais ou menos assim, reticente, apesar da enorme vontade de
viver; relutante, ainda que uma devoradora voraz das horas. Sua música
combinava com estrada, fúria e tempestade – disso não esquecerei, seu jeito de
cantá-la sempre era meigo. A melodia brilhava em seus olhos enquanto sua cabeça
pousava sobre meu colo.
Perguntou: e o meu beijo?...
Pegou a estrada em seguida, a vida ao longe a chamou, nada podia detê-la. Sua paixão a aguardava além.
Cantou isso bem alto!
Pegou a estrada em seguida, a vida ao longe a chamou, nada podia detê-la. Sua paixão a aguardava além.
Cantou isso bem alto!
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Morreu sozinha a mesa de um restaurante chique
Ninguém soube que andava sozinha por tanto tempo. Que trabalhava
tanto, que de tanto não parar sua vida provavelmente não perceberia, que nesse
dia, morreria sozinha em um restaurante chique da zona Sul. Em uma mesa
discreta ao fundo do salão, cumpria seu ritual de todos os dias, pausa para o
almoço, um café, um cigarro e o retorno ao trabalho pelo qual seu nome servia
de referência para meio mundo de gente que não a conhecia. Nesse dia em
especial acordara pensando em quanto tempo ainda trabalharia, para recuar, súbito,
ao pensar o que faria quando sem nada pra fazer. Sua vida fora moldada a ferro
pelos prazos e cobranças, era alguém rigidamente cumpridora de agendas. Sentiu-se
demasiado cansada ao sair para a universidade, se sentiu velha ao espelho, não
se reconhecera, sua imagem fugira de si, e ela definitivamente, não se via no
reflexo. O cabelo permanecia impecavelmente acaju como há muitos anos, as
primeiras rugas se somaram a umas tantas outras e estava nitidamente acima do
peso. Não, nessa manhã não fazia ideia quem seria aquela impostora. No almoço, como sempre, não tinha fome (como também a
muito, já não tinha sono), revirava a comida lentamente com o garfo como quem
se lembrava de algo inalcançável, talvez, naquele dia, tentando lembrar como
seria sorrir, dividir uma alegria, ter algum afeto, menos que formalidades.Teve
um ataque fulminante. E ninguém por perto, os filhos que não tivera, nenhum dos
amores perdidos, nenhum parente pra lembrar, nem lá, nem em lugar nenhum. Ela
trabalhava demais, era reconhecida demais e ninguém por perto nesse dia que seu
coração também se foi, e já não cabia mais nenhuma metáfora em sua história.
No dia seguinte, alguém publicou uma nota sobre sua morte em
um grande jornal da cidade, sua última referência.
Ninguém soube que escrevia um livro de memórias.
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