Cartier Bresson (1969) |
Sentaram-se
próximos no mesmo café algumas vezes. Não parecia nunca passar muito tempo sem
que a visse naquela mesa do canto - Curiosamente, sempre desocupada pra ela.
Reparou-a logo nas
primeiras vezes, morena, cabelos compridos, gestos contidos, mãos finas, olhos
que não estavam ali, nem em nenhum lugar, mas além. Além dos quadros de postais
em molduras marrom na parede: Caminito, La Moneda, Abbey Road e outros lugares
menos comentados mais ao Oriente.
Em silêncio seu
olhar parecia assistir o ir e vir dos passantes em cada frame de uma realidade
para a qual ela gostaria de se transportar naquele instante. Seu silêncio e
solidão descreviam mais um postal: vestido branco curto, sandálias baixas,
pouca ou nenhuma maquiagem.
Nunca parecia
triste, nem tão pouco alegre, mas sim em trânsito, em um tipo de suspensão do
tempo que a fazia de outro momento. Descrevia um movimento delicado no espaço
ao verter o último gole da xícara.
Um dia no qual ela
deixou o café, quem sabe para que destino, quisera desejar-lhe uma “boa viagem”
- Sequer chegara a dar um “até logo”, no máximo a olhou mais demoradamente
enquanto ela cruzava a porta. Até um dia que percebera que ela não mais retornara.
A mesa do canto há muito era ocupada por pessoas sem viagem nos olhos.
Meses depois o
proprietário fixou mais um quadro na parede. Podia jurar que na foto a moça
morena está sentada num banco de praça em Barcelona. O olhar dela em trânsito,
mesma paisagem em seu destino: a de seguir pra fora de tudo.