Lake (Sylvie Blum) |
Já fazia algum tempo
que saiam juntos. Ficavam. Faziam-se companhia, porém nenhum dos dois parecia
sentir-se em um relacionamento. Eram desligados demais para isso. Não obstante,
cada vez mais precisavam da presença um do outro, mesmo para dividir os
silêncios nos quais tentavam adivinhar o que o outro estava pensando.
Repartir
também os momentos nos quais as falas saiam iguais. Como no dia que se disseram com vontade de ir à praia. Se deram conta que nunca tinham ido juntos.
Justo à praia, que tanto gostavam. Mataram o trabalho e foram no meio da
semana. Praia distante, quase sempre deserta. Ao chegar, como esperado, vazia.
Andaram muito até chegar perto do mar, estenderam a esteira e silenciaram vendo
as ondas.
Ela tirou a entrada de banho e começou a passar o protetor. Sua pele
ganhava uma nova vida ao sol, quase um detalhe, frente ao fato que mesmo depois de todo esses tempo, ele não conseguia
desviar os olhos dos fartos peitos dela, mal escondidos pelo biquíni tomara-que-caia.
O silêncio foi quebrado por ela ao cantarolar à Flor da Pele, do Chico:
“O que não tem
vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo,
nem nunca terá
O que não tem juízo”.
Olhou para ele. Sorriu.
Com dois movimentos tirou o biquíni e correu para o mar.
Ele, apesar de lento, quase lerdo, claro foi atrás.
Assim desnudos,
entraram no mar como em outra dimensão.
Para dentro do que não
tem limite.
Nem nunca terá.
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