quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sem Nenhum Gosto

Well Dressed Man with Baguette (Larry Vogel)

Levantou-se no meio da madrugada. Havia esquecido as luzes da casa ligada, como muitas vezes nas últimas semanas, o clarão nos olhos o impediu de continuar fingindo dormir. Se investiu de toda determinação para sair da cama e ir à cozinha tomar um copo d’água.

Ao passar pela sala os viu todos os papéis, blocos, anotações e tudo que fingia não mais existir quando se abandonou depois que ela se foi. Pra variar a água do garrafão acabara, bebeu da torneira mesmo, tanto fazia. Fez um café, e tornou a olhar a mesa desarrumada. Enquanto olhava para a cadeira afastada, a roupa pelo chão, a planta que murchara, ouvia o silêncio histérico das palavras não ditas, a tormenta muda do gesto não realizado, tudo nas linhas que não conseguia mais retomar do seu último texto. Desde que ela se foi sua coragem vinha a contas gotas, letra a letra, à medida que a arrancava de si – a contragosto, sem nenhum gosto.

Puxou a cadeira para próximo da mesa, olhou para o futuro e escreveu algumas linhas que falavam de um encontro no passado, e de um querer que seguia sorrindo onde ninguém mais o alcançaria. Nessa hora o Sol começava a aparecer entre os prédios. Logo mais tinha que trabalhar. “Eles não mais se veriam”, pensou.  “Melhor ir comprar pão”

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