Levantou-se no meio da madrugada. Havia
esquecido as luzes da casa ligada, como muitas vezes nas últimas semanas, o
clarão nos olhos o impediu de continuar fingindo dormir. Se investiu de toda
determinação para sair da cama e ir à cozinha tomar um copo d’água.
Ao passar pela sala os viu todos os
papéis, blocos, anotações e tudo que fingia não mais existir quando se
abandonou depois que ela se foi. Pra variar a água do garrafão acabara, bebeu
da torneira mesmo, tanto fazia. Fez um café, e tornou a olhar a mesa
desarrumada. Enquanto olhava para a cadeira afastada, a roupa pelo chão, a planta
que murchara, ouvia o silêncio histérico das palavras não ditas, a tormenta
muda do gesto não realizado, tudo nas linhas que não conseguia mais retomar do
seu último texto. Desde que ela se foi sua coragem vinha a contas gotas, letra
a letra, à medida que a arrancava de si – a contragosto, sem nenhum gosto.
Puxou a cadeira para
próximo da mesa, olhou para o futuro e escreveu algumas linhas que falavam de
um encontro no passado, e de um querer que seguia sorrindo onde ninguém mais o
alcançaria. Nessa hora o Sol começava a aparecer entre os prédios. Logo mais
tinha que trabalhar. “Eles não mais se veriam”, pensou. “Melhor ir comprar pão”
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