Almoçara cedo nesta sexta feira, praticamente não
tocou na comida. Ainda havia coisas para arrumar na casa antes que ela
chegasse, mais ainda para colocar em ordem em sua cabeça antes que a visse
novamente. Urgia dar uma aparência decente ao apartamento, dar um jeito na
pilha de pratos na cozinha, papéis sobre o sofá, na roupa usada largada pelos
cantos.
Fez o que podia, pois sua vontade era pouca, forte apenas para uma luta
imaginária contra o relógio, faltavam agora poucos instantes para a hora marcada.
Do que era preciso mesmo para aquele encontro estava quase tudo pronto.
O interfone
tocou pontual, sabia que era ela, liberou imediatamente o portão. No momento em
que chegou a sala estava ainda da mesma forma, não conseguira organizar nada,
estava tudo do jeito de sua cabeça. Trocaram um “olá” rápido, pra dentro,
intenso na dissolução da expectativa de que, de alguma forma, fosse diferente
naquele último encontro.
Sim, era talvez o último, ela estava se despedindo sem
dizer nenhum “adeus”. Perguntou sobre suas coisas. Ele respondeu que estavam
todas lá, encostadas na parede, nas últimas malas. Ele ajudou a descê-las do
segundo andar. Do outro lado da rua um sedã escuro com os vidros levantados a
esperava com o motor ligado.
Ele faltou ao trabalho essa tarde. Com voz
embargada, disse ao Chefe que estava doente.
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