Henri Cartier-Bresson |
Um dia ela saiu. Juntou suas coisas pra ver outra
vida, conhecer um oceano distante, ver de perto as ondas que quebravam em outra
direção, numa praia que vira num cartão postal quando era pequena. Aquele
momento não careceu despedida, nem havia muito que levar, comprou uma passagem
de ocasião. O mais importante era por os
pés na areia daquele outro lado do mundo, no lado B de si mesma, quando suas
saudades caberiam nos versos de um guardanapo, no sabor ácido daquele limão na
bebida, no flerte do jovem que tomava uma cerveja no bar. Num final de tarde
estava ali, do outro lado do mundo, no lugar onde os ventos faziam curvas que
reviravam seus cabelos cacheados ainda mais, e ela pensava que aquele horizonte
era do tamanho de todos os sonhos que podia ter vivido quando ainda não sabia
que a dor obrigava a deixar coisas pra trás. A aceitar que o cenário mais belo
do cartão postal é feito de alguma matéria de coisas que não existem mais.
Nesse momento quis escrever algo, telefonar, quem sabe, tirar a foto perfeita.
Não precisava dizer mais nada. Como não mais se veriam tudo seguiria seu rumo, de
agora em diante só bastava ver as ondas que quebravam de um jeito diferente do
outro lado do mundo.
Distância é uma precária
combinação de pontes que insistem em se manter inexistentes, mesmo com todos os
aviões cruzando os céus.
Ps: O outro lado de si mesmo é a fronteira final. Há quem diga que poucos chegam lá. Ninguém nunca conseguiu voltar.
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