Cinco da tarde era verão. Após andar a esmo pelas
ruas do Centro, imerso nas idas e vindas à toa de todos que não conhecia,
sentiu o calor minar-lhe o ímpeto resistente de continuar a andar para
esquecer. Tinha que sentar. Perder-se entre os passantes, era perder a própria
identidade daquele tempo, negar-lhe um rosto, eximir-se dos sentimentos. Tudo
um plano, procedimento de emergência que adotara nos últimos meses, depois que
ela o deixara. Flanar era seu dispositivo de fuga, sua máquina contra o tempo.
Enfim,
cansado, suor abundante na fronte, tinha que parar e fumar um cigarro.
Percebeu-se frente à praça que ela mais gostava, diante ao seu cinema favorito,
e se deu conta que, automaticamente, já estava na mesma mesa do Café no qual ela
lhe falara de seu desejo de viajar pelo mundo, talvez, pra nunca voltar. Ele
rapaz da cidade acostumado ao chopp, cinema e futebol com amigos, nunca
entendera os ímpetos incontidos daquela moça morena com sorriso de menina. Naquele
mesmo café, no qual paravam depois das sessões de cinema, ela disse para ele que
partiria, mas prometeu-lhe voltar.
Ele não podia acompanhá-la. Pensou: Algo nas
partidas sempre tem cara de eternidade, a despedida é um adeus travestido de
até logo. Ela partiu para uma grande cidade atrás de seus sonhos. Ele ficou. Continuou
enganando seu próprio tempo através dos passos que escreviam um texto sobre as
paisagens que olhos castanhos de seu antigo amor viam pelas ruas do centro. O cheiro de café sempre lembrava seu beijo.
Nunca mais se viram.
Situações predestinadas, fadadas...
ResponderExcluir"De sons e tempos"... Eu ainda quero ler um final feliz. Esses sempre me fazem chorar... Ainda que seja peculiar e belo. Ainda que a leitura tele transporte para outra dimensão. Ainda espero um final feliz!!! :)
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