Pararam próximos a uma vitrine de uma loja chique do
bairro nobre da cidade. Palmas das mãos estendidas sobre o vidro, os dedos dela e
os dele, lado a lado, tocavam o vidro frio, sentiam na rigidez da transparência
a distância das coisas que não lhes diziam respeito, o vazio do mundo nas coisas à venda - inalcançáveis. Ver e
não tocar, não atravessar, não transgredir, não rebelar-se contra a coisa que
os aprisionavam num mundo segregado. Até o momento que, o voo não previsto de
uma pedra, vinda sabe-se lá onde, estilhaçou tudo e cobriu a calçada com centenas
de pequenos fragmentos de vidro. Mãos dadas, hora de correr pelas calçadas em
convulsão. Dias de levante. Dedos entrelaçados, a revolução urrava pelos desejos
libertos de todas as paixões no mundo, que as coisas não conseguiam mais reter.
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