Ela acordou com espírito de samba. O carnaval irrompia
através das venezianas do apartamento e a semana no fim. Ela resolvia cada um
de seus afazeres com a pressa de quem achava que veria o fim do mundo, ao mesmo
tempo, com a lassidão própria dos que já se achavam espraiados no tempo mágico do
desperdício momimo.
Agora, emergencialmente, era partir para o trabalho nessa
sexta feira. Antes, porém, regar suas plantas, colocar comida pro peixe e
torcer pro tempo passar rápido, se necessário pendurar-se nos ponteiros pra
horas amolecerem e sair pra bailar. Antes das cinco já deixara o trabalho, correu
pro Beco da Ladeira no bairro antigo.
O bloco estava se organizando, primeiras
cervejas e acordes da banda. O cordão fora gestado durante anos com a maior
preguiça, estava saindo pela primeira vez. Ela Levaria o estandarte. Entre
detalhes em rosa, maquiagem brilhante, batom vermelho e o sorriso maior do ano,
ria-se de todo o povo feliz, especialmente do moço bonito que saltou em sua
frente durante sua evolução.
Não havia mais nada em si que contivesse o que a alegria poderia trazer. Reencontrou o mesmo rapaz em outra dança mais tarde.
Terminaram a primeira noite de carnaval de corpos entrelaçados em meio à
multidão.
Não havia lua no céu. Não há lua no Carnaval. Nem precisava, em sua
cabeça giravam os versos de Gabriela, “Chega mais perto moço bonito...” .
Bastava-lhe.
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