Ela chegara tarde do trabalho nesta sexta feira. O pequeno
apartamento alugado ainda tinha a sala tomada por caixas da mudança já não tão
recente. Não que fosse rica, sequer tivesse sonhado com isso na vida, mas pela
primeira vez morava perto da praia, da pontinha de sua janela dava para ver um
pouquinho do mar a apenas algumas quadras. Em direção à cozinha, passou entre
algumas caixas de livros e umas de não-sei-que-lá que talvez fossem de roupas,
Leopoldo, o gato abandonado pelo ex namorado, quase a derruba em sua ânsia pela
comida da noite.
Banho frio. Ainda não instalara o chuveiro elétrico, por isso,
maldizia-se da preguiça, falta de tempo e ou da falta de saco pra falar com
estranhos, um eletricista que viesse resolver a tal coisa. Deixou os pesados
óculos sobre a mesa, não precisaria mais deles hoje. Chá verde a mão, alguns
biscoitos integrais, sentou no velho sofá laranja devidamente coberto com uma
pesada manta e se pôs a pensar na vida. Leopoldo já saciado, agora insistia em
passar entre sua cabeça e a parede por trás do sofá.
Estava muito cansada hoje,
pensara em chorar na volta pra casa, não sabia bem o porque. Talvez saudade de
algum plano esquecido, de alguma coisa boa do tempo com o ex-namorado, talvez a
demora em encontrar outra pessoa, ou, estivesse aprendendo a ser feliz com sua
própria nova vida. Sempre desconfiara da felicidade.
Ela se deu conta que hoje um velho amigo do trabalho parecia flertar com ela.
Ele lhe sorrira algumas vezes mais ao falar sobre suas impressões do último
filme que falava, óbvio, de amores que acabam e outros que começam do nada. O rapaz de barba rala e óculos, sempre tão gentil. Pensou: Essa bagunça
uma hora passa. Convenceu-se que nesse momento só estava cansada.
Permitiu-se e chorou baixinho.
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