Foto: Antonio Lacerda / EFE |
A praça estava lotada
de bandeiras vermelhas. Todas as pessoas ansiosas pelo início da apuração. Ele
chegou cedo, ainda com um pouco de sol da tarde. Andou um pouco pra lá e pra cá,
não viu ninguém conhecido, pensou que talvez seus amigos tivessem ido para outro
lugar acompanhar a contagem. Era mais um talvez naquele dia incerto. Ninguém
lhe ligou. Nada de mensagens.
Comprou uma cerveja e
sentou-se no banquinho da praça, ao lado do quiosque. Chamou-lhe a atenção uma
moça bonita que ia e vinha. Inquieta, grande sorriso, sabe lá de onde vinha e
para onde ia. O tempo passou a apuração seguia, o voto a voto apertado extraia
dos rostos uma expressão de quase desespero. Acompanhava pelo telão o
desenrolar dos números.
Displicentemente olhou
para o lado e viu a mesma garota de algumas horas atrás. Cabelo castanho escuro
profundo, discreta franja. A longa tattoo de finos traços orientais no braço
contrastava com a pele branca e os pelos escuros. Mesmo diante da preocupação
do momento, o sorriso dela parecia maior, realçado pelo batom vermelho.
Vê-la retirou-o
instantaneamente de sua quase letargia depois de tantas cervejas. Ela segurava uma
grande bandeira vermelha. Também o olhou. Falou-lhe algo sobre os números do
escrutínio, ele concordou. Trocaram mais algumas opiniões rápidas sobre
qualquer coisa. Súbito, no telão surge o resultado final. A explosão de alegria
da vitória mescla-se com gritos e uma vertiginosa antecipação do carnaval. Eles
também pularam. Abraçaram-se e pularam mais. A bandeira dela foi ao chão e eles
se beijaram. Demoradamente, exorcizando todas as angustias.
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