"DAVE BOWMAN: You see, something's going to happen. You must leave. HEYWOOD FLOYD: What? What's going to happen? DAVE BOWMAN: Something wonderful" (2010: The Year We Make Contact)
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Pela Metade (conto)
Sentia-se meio vazia. Como um copo pela metade.
Naquele momento lhe era impossível ver-se como um copo meio cheio e isso entristecia-lhe mais, sempre sentira dificuldade de ver a vida de outra forma. Disse
isso para ele pelo telefone da última vez. Ele emudeceu por um segundo. Aqueles
segundos pareceram uma eternidade até que ele dissesse algo. Quando tornou a
falar disse a ela que ficasse bem. O melhor possível que uma condição de metade
de copo permitia. Insistiu que ela tentasse. Na cumplicidade de poucas
palavras que tinham, bastava. Ela sorriu. Esperaria. Sorririam juntos novamente.
domingo, 16 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
Belezas (conto)
Apenas o som da água
jorrando da torneira da pia da cozinha. Suas mãos estavam imóveis segurando o
prato do almoço em meio à espuma de detergente. Por alguns segundos se deteve
fitando o vazio além dos imãs na porta da geladeira.
Passado já algum tempo desde
que o viu pela última vez, divagava sobre as possibilidades que a vida oferecia
e, quase imediatamente, negava. Era apaixonada pelo belo, a beleza a seduzia de
todas as formas, sobretudo a beleza recôndita, tímida, discreta de si. Um tipo
de beleza que sabia o ser para as pessoas certas. Algo não lhe parecia correto
em relação às belezas que lhe chegavam na vida. Por que elas não ficavam? Pelo
menos não ficavam sequer um pouco mais? Parecia injusto. A beleza que lhe
apaixonava andava solta nas ruas, passava nos ônibus, virava a esquina, seduzia-a no cinema – em frames
que nunca mais deixariam suas retinas.
Voltou lentamente ao
som da água que caia na pia. E ele, por que não voltou para beijá-la? A beleza
do mundo é arredia, pensou ela. Estava melancólica, mas não cabia uma lágrima.
Talvez só lhe pesassem
as dificuldades das últimas semanas. Enfim, suspirou breve e lembrou: “belezas
são coisas acesas por dentro”, como dizia Mautner.
sábado, 8 de novembro de 2014
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Estranhezas (conto)
Paul Almásy (1960) |
No encontro que se
seguiu ela começou a perceber que ele era um tipo estranho, assim como ela,
assim como todo mundo. Mas a estranheza dele encantava-a cada vez mais. Devia
ter-se levantando da mesa quando ele falou-lhe, em meio a um gole e outro de
caipiroska, que havia mudado para um prédio novo e que ele se incomodava cada
vez mais com os sons de conversas de vizinhos recém-chegados vindas do hall. Saber de suas presenças ali tão
perto, do outro lado da fina lâmina de madeira da porta, causava a ele uma
apreensão diante dos inevitáveis encontros dali pra frente. Ele seria obrigado
a falar e ser agradável. Não que quisesse ser desagradável com ninguém, mas não
queria precisar ser nada em relação a ninguém que não conhecesse bem.
Ele era um tipo dos
mais estranhos, mas ao invés de traçar uma rota de fuga, ela preferiu ficar,
queria saber onde aquilo ia chegar. Na verdade ela não era assim tão aberta
para o mundo quanto parecia, sua abertura e simpatia era o resultado de um bem
elaborado roteiro que tentava seguir a risca, um desempenho em busca de
continuo aperfeiçoamento. Poucos acreditariam se confessasse isso. Ele mesmo
demorou a acreditar. Mas aceitou, afinal, se reconheceu nos sintomas.
Ele também era portador de uma falha em sua abertura social, Disse-lhe que ficava rubro com frequência
quando descoberto em pleno ato de representar a si mesmo. Ela pensou, “ele era
uma graça tentando fazer um tipo blasé ou descolado”, até conseguia. E ela ria
ainda mais. Riram os dois.
Brindaram. Ela tomou
sua vodka com gelo e limão. Ele pensou sobre isso depois e achou que era
uma forma de promoção pessoal dela, mas deixou pra lá, achou-a algo destemida
por isso. Concluiu que se era parte da cena criada para o momento, funcionou.
Tocaram as mãos sobre a mesa, primeiro a ponta dos dedos, depois as
entrelaçaram. O beijo que trocaram em seguida teve gosto de vodka, limão,
chiclete de canela e do cigarro que ela fumava.
Foram pra casa dele e nenhum
dos dois se importou pela manhã com os sons de conversa que vinham das escadas
enquanto os vizinhos saiam para o trabalho ou para levar as crianças à escola. Nesse dia eles faltaram
ao trabalho. Passaram a noite explorando suas estranhezas. Pelos menos seus corpos
já não eram assim tão estranhos.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
terça-feira, 4 de novembro de 2014
A Nova Colega (conto)
Carlos León-Salazar |
Chegara à empresa bem referenciada, seu currículo se fez
antecipar pela chefia. Vê-la lhe deu a sensação que não haveria porque querer
trabalhar em nenhum outro lugar do mundo. Ela era de outro setor, e, decepção, no
início pouca convivência.
Mas a pausa do café tornou-se um momento
mágico. Ela amava café. Ficou mais
fácil, disse depois que tinha uma dessas máquinas importadas de café expresso.
Os cafés eram a chance de dizer um olá, derreter-se mirando furtivamente seus
olhos. Perguntar, titubeante, qualquer coisa sobre música ou cinema. Sorte, não
era do tipo que curtia coisas fáceis, nada de música de barzinho. Viu o último
Wood Allen no cinema. Enquanto isso ele se contorcia para não se deixar
perceber capturado pelas sardas que cobriam seus ombros, expostas pela
generosidade do decote que caia displicentemente pelo braço.
Algum tempo depois, passaram a almoçar juntos, o primeiro
cinema, a primeira ida à casa dela. Nunca esqueceu a noite na qual ela disse
que ia embora. Usava uma t-shirt branca dele com o Yellow Submarine, nada mais.
Caneca de café à mão. Os olhos dela ganharam um tom de verde-fim, ou verde-outono.
Não importa muito, o daltonismo não o deixava perceber a nuance. Mas algo dizia
que não haveria outra vez. Essas coisas são óbvias. Sempre são.
Faz uns seis meses que ela deixou a empresa e a vida dele.
Mudou-se para o exterior numa daquelas viradas impressionantes
de pessoas dispostas a desafiar a si mesmas, não se importou com a relativa estabilidade
financeira que tinha. Ele não teve mais notícias dela.
Até hoje, quando lhe chegou um postal dela de um país distante.
sábado, 1 de novembro de 2014
Noir Désir - Le Vent Nous Portera
Coisas que o YouTube traz até praia.
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