Apenas o som da água
jorrando da torneira da pia da cozinha. Suas mãos estavam imóveis segurando o
prato do almoço em meio à espuma de detergente. Por alguns segundos se deteve
fitando o vazio além dos imãs na porta da geladeira.
Passado já algum tempo desde
que o viu pela última vez, divagava sobre as possibilidades que a vida oferecia
e, quase imediatamente, negava. Era apaixonada pelo belo, a beleza a seduzia de
todas as formas, sobretudo a beleza recôndita, tímida, discreta de si. Um tipo
de beleza que sabia o ser para as pessoas certas. Algo não lhe parecia correto
em relação às belezas que lhe chegavam na vida. Por que elas não ficavam? Pelo
menos não ficavam sequer um pouco mais? Parecia injusto. A beleza que lhe
apaixonava andava solta nas ruas, passava nos ônibus, virava a esquina, seduzia-a no cinema – em frames
que nunca mais deixariam suas retinas.
Voltou lentamente ao
som da água que caia na pia. E ele, por que não voltou para beijá-la? A beleza
do mundo é arredia, pensou ela. Estava melancólica, mas não cabia uma lágrima.
Talvez só lhe pesassem
as dificuldades das últimas semanas. Enfim, suspirou breve e lembrou: “belezas
são coisas acesas por dentro”, como dizia Mautner.
a beleza sempre tão relativa aos olhos de quem vê...
ResponderExcluirisso me acalma, diante de tantas possibilidades podemos enxergar nossa própria beleza e nos apaixonar diariamente por esse belo, que o é apenas belo para pessoas certas. Que mais podemos querer?
Provavelmente não muito mais. A beleza é o rio que nos leva. Envolvente, irresistível.
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