Carlos León-Salazar |
Chegara à empresa bem referenciada, seu currículo se fez
antecipar pela chefia. Vê-la lhe deu a sensação que não haveria porque querer
trabalhar em nenhum outro lugar do mundo. Ela era de outro setor, e, decepção, no
início pouca convivência.
Mas a pausa do café tornou-se um momento
mágico. Ela amava café. Ficou mais
fácil, disse depois que tinha uma dessas máquinas importadas de café expresso.
Os cafés eram a chance de dizer um olá, derreter-se mirando furtivamente seus
olhos. Perguntar, titubeante, qualquer coisa sobre música ou cinema. Sorte, não
era do tipo que curtia coisas fáceis, nada de música de barzinho. Viu o último
Wood Allen no cinema. Enquanto isso ele se contorcia para não se deixar
perceber capturado pelas sardas que cobriam seus ombros, expostas pela
generosidade do decote que caia displicentemente pelo braço.
Algum tempo depois, passaram a almoçar juntos, o primeiro
cinema, a primeira ida à casa dela. Nunca esqueceu a noite na qual ela disse
que ia embora. Usava uma t-shirt branca dele com o Yellow Submarine, nada mais.
Caneca de café à mão. Os olhos dela ganharam um tom de verde-fim, ou verde-outono.
Não importa muito, o daltonismo não o deixava perceber a nuance. Mas algo dizia
que não haveria outra vez. Essas coisas são óbvias. Sempre são.
Faz uns seis meses que ela deixou a empresa e a vida dele.
Mudou-se para o exterior numa daquelas viradas impressionantes
de pessoas dispostas a desafiar a si mesmas, não se importou com a relativa estabilidade
financeira que tinha. Ele não teve mais notícias dela.
Até hoje, quando lhe chegou um postal dela de um país distante.
"Mas algo dizia que não haveria outra vez. Essas coisas são óbvias. Sempre são."
ResponderExcluirAnnie
Annie,
ResponderExcluirPois é, algo lembrou-me Manu Chao: "Je ne t´aime plus mon amour.
Je ne t´aime plus tout le jour".