domingo, 15 de março de 2015

Entre os Dedos (conto)


Na noite anterior nenhum dos dois dormira em casa. Se viram apenas pela manhã, dia alto, enquanto tomavam um café na cozinha. A maquiagem pesada dela ainda marcava os olhos, as olheiras dele denunciavam a bebedeira que ainda não passara. Havia um silêncio pesado entre eles, nos últimos dias chegaram ao ponto mais profundo que podiam ao tentar atingir um ao outro. Não conseguiam mais entender como chegaram até ali, como os verdes anos de paixão, que pareciam tão próximos, caíram tão rápido no esquecimento. Ela sussurrou: “o que nós fizemos com a gente?”. Seguiu-se uma longa respiração. Pausa. Se abraçaram de uma forma que não se deixassem mais ir. Não bastou. Escaparam-se entre os próprios dedos, como o tempo que não conseguiram ver passando. Ao final do mês colocaram o apartamento à venda.

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