Na noite anterior nenhum dos
dois dormira em casa. Se viram apenas pela manhã, dia alto, enquanto tomavam um
café na cozinha. A maquiagem pesada dela ainda marcava os olhos, as olheiras
dele denunciavam a bebedeira que ainda não passara. Havia um silêncio pesado
entre eles, nos últimos dias chegaram ao ponto mais profundo que podiam ao
tentar atingir um ao outro. Não conseguiam mais entender como chegaram até ali,
como os verdes anos de paixão, que pareciam tão próximos, caíram tão rápido no
esquecimento. Ela sussurrou: “o que nós fizemos com a gente?”. Seguiu-se uma
longa respiração. Pausa. Se abraçaram de uma forma que não se deixassem mais
ir. Não bastou. Escaparam-se entre os próprios dedos, como o tempo que não
conseguiram ver passando. Ao final do mês colocaram o apartamento à venda.
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