"DAVE BOWMAN: You see, something's going to happen. You must leave. HEYWOOD FLOYD: What? What's going to happen? DAVE BOWMAN: Something wonderful" (2010: The Year We Make Contact)
sábado, 22 de agosto de 2015
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Volta
Não dormira essa noite,
caminhou desde a madrugada por muitas ruas. Depois de tanto sentou-se numa mesa
de canto em um bar perto da estação central. Desses que tem um ar úmido, acre de
tempo desperdiçado, azedo e sem razões. O lugar para tomar uma cerveja que
ninguém espera estar gelada – e nunca está. A longa e estreita porta para rua, mal
iluminava o salão. Nos fundos, ao lado do balcão, já na penumbra um corredor
estreito seguia para os quartos que serviam de motel. Pensava em como matara suas
crenças tempos atrás, todas, inclusive as de afeto. Não fora sempre assim, mas
a juventude era uma lembrança bastante gasta, dessas que não valia a pena
tentar remontar. Viu alguns casais que ora ou outra entravam e saiam. Estava
velho para aventuras, a única coisa que dá alguma razão para vida. Entendia a
todos que permaneciam vivos de fato. A cerveja quente naquele bar fedido
confirmava que estava fora do jogo. Mais tarde voltaria para seu caminho. Definitivamente,
havia sido uma péssima ideia ter voltado para vê-la.
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Sem Respostas
1944, outono. Ela não
tinha notícias de seu jovem marido há meses. Tempos de guerra, não havia
respostas para as cartas, restavam as horas, a solidão, a esperança. Mas
nenhuma notícia. Casaram-se pouco antes da convocação dele, cerimonia coletiva,
terno e vestido emprestados. Lua de Mel no pequeno sótão, que por três dias chamaram
de lar. Levava os dias da fábrica, operadora de torno. Tempo que se arrastava, pois envolto no vazio dessa distância. Escrevera
mais uma vez para ele há pouco, contara que estava agora no sétimo mês de
gravidez. Na cama, sob a pouca luz do quarto acariciava lentamente a barriga,
via seus seios fartos e pensava na nova vida a caminho. Em breve não mais
estaria só. Seriam dois sobreviventes, haveria muita coisa a fazer. Era
preciso mais amor, apesar de tudo. Sentiu-se mais bonita e mais forte do que nunca.
Disse tudo isso para ele na carta que acabara de selar. Sabia que as chances de
respostas eram cada vez menores. Ou nenhuma.
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