1944, outono. Ela não
tinha notícias de seu jovem marido há meses. Tempos de guerra, não havia
respostas para as cartas, restavam as horas, a solidão, a esperança. Mas
nenhuma notícia. Casaram-se pouco antes da convocação dele, cerimonia coletiva,
terno e vestido emprestados. Lua de Mel no pequeno sótão, que por três dias chamaram
de lar. Levava os dias da fábrica, operadora de torno. Tempo que se arrastava, pois envolto no vazio dessa distância. Escrevera
mais uma vez para ele há pouco, contara que estava agora no sétimo mês de
gravidez. Na cama, sob a pouca luz do quarto acariciava lentamente a barriga,
via seus seios fartos e pensava na nova vida a caminho. Em breve não mais
estaria só. Seriam dois sobreviventes, haveria muita coisa a fazer. Era
preciso mais amor, apesar de tudo. Sentiu-se mais bonita e mais forte do que nunca.
Disse tudo isso para ele na carta que acabara de selar. Sabia que as chances de
respostas eram cada vez menores. Ou nenhuma.
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