Não dormira essa noite,
caminhou desde a madrugada por muitas ruas. Depois de tanto sentou-se numa mesa
de canto em um bar perto da estação central. Desses que tem um ar úmido, acre de
tempo desperdiçado, azedo e sem razões. O lugar para tomar uma cerveja que
ninguém espera estar gelada – e nunca está. A longa e estreita porta para rua, mal
iluminava o salão. Nos fundos, ao lado do balcão, já na penumbra um corredor
estreito seguia para os quartos que serviam de motel. Pensava em como matara suas
crenças tempos atrás, todas, inclusive as de afeto. Não fora sempre assim, mas
a juventude era uma lembrança bastante gasta, dessas que não valia a pena
tentar remontar. Viu alguns casais que ora ou outra entravam e saiam. Estava
velho para aventuras, a única coisa que dá alguma razão para vida. Entendia a
todos que permaneciam vivos de fato. A cerveja quente naquele bar fedido
confirmava que estava fora do jogo. Mais tarde voltaria para seu caminho. Definitivamente,
havia sido uma péssima ideia ter voltado para vê-la.
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