Hugues Erre |
No dia no qual que ela se sentiu
mais só, todas as verdades que trazia consigo no peito se esvaiam em lágrimas
discretas. No final da tarde, tentou voltar para casa e não conseguiu. Depois
de alguns momentos de hesitação na portaria de seu prédio, seguiu adiante.
Passou em frente a padaria, depois ao posto de gasolina, deteve-se na
floricultura, onde lhe ofereceram algumas margaridas. Declinou da oferta. Um
breve e forçado sorriso e continuou. Ao passar em frente a livraria quis tomar
um café, mas sabia que não o faria sem um cigarro, mais um, foram tantos durante
essa tarde. Melhor não. Quatro quadras a frente o bar estava abrindo. Foi a
primeira cliente, mesa de frente para porta, primeira bebida e direito de
escolher a primeira música do dia.
Algum tempo e várias doses depois, ao
decidir voltar para casa encontrou a luz da cozinha acesa e uma carta sobre a
mesa. Ele não voltaria. Despiu-se, deu comida ao gato que faminto entrelaçava-se
às suas pernas, pegou uma cerveja e afundou-se no sofá. Tentou lembrar de todas
as formas o que dera errado, mas só conseguia lembrar de quando vira o sorriso
dele pela primeira vez e de quando tudo parecia para sempre, até aquele
momento, em que seu gato já andando sobre seu peito, lhe reclamava um afago.
O sofrer humano dolorosamente é poesia, Dave.
ResponderExcluirNo fim, todos nós somos como o gato.
O conto se findou; as imagens ficaram. Parabéns.
Abraço
Pois é, Jonatas.
ResponderExcluirO gato pode representar a própria vida que passa.
Naquele momento, apenas seu afago reclamado apontava para além das imagens.
Obrigado pela leitura,
Abraços,
Dave.