quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Entre Interditos e Porres de Cerveja



Depois que ela entrara em sua vida, ou que ele se dera conta disso, nada mais ficou em paz. “Paz”, pensou num momento nostálgico pleno de licença poética (e ponha licença nisso), lembrando “Alvorada Voraz” do RPM, “que paz?”. Nunca a tivera!

Mas as coisas haviam se tornado irremediavelmente estranhas para ele nos últimos meses. Recapitulando. Primeiro, ela aparece, assim, do nada, materializada como vinda de algum país distante, quem sabe, do Leste Europeu. No momento que a quarta lata de cerveja está acabando, só lhe veio, a Republica Tcheca à cabeça. “Tudo bem, que seja”, pensou. Adorava Kafka e Milan Kundera. Ela Lembra por demais Sabina. Ou seria Tomas? Aquele que amava as mulheres girafa? Não, ela certamente era a soma dos dois, meio Tomas, meio Sabina, nunca Teresa. Esta era ele, ali, já um tanto languido ao tentar recuperar as peças caóticas desse Lego feito de pura lógica paradoxal.

Uma Teresa a qual a máquina fotográfica que era seu escudo fora suprimida da narrativa. E ela se dera conta que estava nua frente a um mundo que a devassava como num raio x despudorado. Ao mesmo tempo, absurdamente alheio ao que passava por dentro de sua cabeça tão perigosamente adernada na direção dos escolhos que ela vira uns anos atrás se aproximando.

Sabia que ela, a garota Sabina/Tomas o havia posto despido no meio da praça de seus próprios sentimentos e últimas trincheiras de verdade vãs. Nestas não havia esquinas, nem bares, nem cafés, nem sons de Caetano. Sobrava silêncio, o cheiro do cigarro em suas roupas e questões que nunca seriam respondidas, nem por ele, nem por ela, por Milan Kundera ou qualquer outro autor absurdo que o próprio leitor possa juntar à trama.

Mas que se dane! Teresa para Tomas era aquela que veio para mudar seu perfeito mundo sem paz. Teresa tinha febre. Tomas/Sabina se convulsionava sobre suas próprias sólidas fundações de papel. Se a memória servisse para algo talvez essa estória tivesse um fim, qualquer que fosse, mas na hora que foi dado o último gole de cerveja, nenhuma lembrança valia mais a pena, e tudo continuou no mais gritante silêncio.

Novamente e de mais uma forma entre milhões possíveis da mesma situação, o herói era despedaçado pelos dentes de laminas afiados de alguma paixão que ele mesmo deixara fazer ninho dentro dos seus olhos.

E a vida seguia naufragando entre interditos e porres de cerveja.

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