Depois que ela entrara em sua vida, ou que ele se
dera conta disso, nada mais ficou em paz. “Paz”, pensou num momento nostálgico pleno
de licença poética (e ponha licença nisso), lembrando “Alvorada Voraz” do RPM, “que
paz?”. Nunca a tivera!
Mas as coisas haviam se tornado irremediavelmente
estranhas para ele nos últimos meses. Recapitulando. Primeiro, ela aparece, assim,
do nada, materializada como vinda de algum país distante, quem sabe, do Leste Europeu.
No momento que a quarta lata de cerveja está acabando, só lhe veio, a Republica
Tcheca à cabeça. “Tudo bem, que seja”, pensou. Adorava Kafka e Milan Kundera.
Ela Lembra por demais Sabina. Ou seria Tomas? Aquele que amava as mulheres
girafa? Não, ela certamente era a soma dos dois, meio Tomas, meio Sabina, nunca
Teresa. Esta era ele, ali, já um tanto languido ao tentar recuperar as peças
caóticas desse Lego feito de pura lógica paradoxal.
Uma Teresa a qual a máquina fotográfica que era seu
escudo fora suprimida da narrativa. E ela se dera conta que estava nua frente a
um mundo que a devassava como num raio x despudorado. Ao mesmo tempo,
absurdamente alheio ao que passava por dentro de sua cabeça tão perigosamente adernada
na direção dos escolhos que ela vira uns anos atrás se aproximando.
Sabia que ela, a garota Sabina/Tomas o havia posto
despido no meio da praça de seus próprios sentimentos e últimas trincheiras de
verdade vãs. Nestas não havia esquinas, nem bares, nem cafés, nem sons de
Caetano. Sobrava silêncio, o cheiro do cigarro em suas roupas e questões que
nunca seriam respondidas, nem por ele, nem por ela, por Milan Kundera ou
qualquer outro autor absurdo que o próprio leitor possa juntar à trama.
Mas que se dane! Teresa para Tomas era aquela que
veio para mudar seu perfeito mundo sem paz. Teresa tinha febre. Tomas/Sabina se
convulsionava sobre suas próprias sólidas fundações de papel. Se a memória
servisse para algo talvez essa estória tivesse um fim, qualquer que fosse, mas na
hora que foi dado o último gole de cerveja, nenhuma lembrança valia mais a pena,
e tudo continuou no mais gritante silêncio.
Novamente e de mais uma forma entre milhões
possíveis da mesma situação, o herói era despedaçado pelos dentes de laminas
afiados de alguma paixão que ele mesmo deixara fazer ninho dentro dos seus
olhos.
E a vida seguia naufragando entre interditos e porres
de cerveja.
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