Descansou a taça de vinho sobre a mesa, levantou e
foi até a varanda do hotel. Estava pra variar de passagem. Pensara durante o
dia nas coincidências de traços, cores e estilos das cidades que visitava. Tudo
se parecia, tudo tão igual enquanto tão diferente tão diferente como se tudo
fosse a mesma coisa que nunca conseguiria conhecer. Era assim, olhava do oitavo
andar, as ruas vazias do Centro sob um clima de alguns sugestivos 15 graus em
pleno silêncio da madrugada. Mais vinho.
Mais do que não sabia, mais da
curiosidade do que pode haver no final daquela avenida. Pensou em ir até lá na
manhã seguinte. Havia algo que o som desse silêncio de metrópole adormecida lhe
trazia a mente: o quão perdido ficava quando viajava. Perdido de si, de sua
vontade e de qualquer motivo pra fazer qualquer coisa, um não lugar de si
mesmo. Como viajava só era preciso dialogar com algo, criar formas de compartilhar,
fazia isso lembrando. Cada lugar cheiro e gosto sempre lhe falaram de algo de outro
lugar, de outro tempo ou de alguém.
Lembrava-se de coisas esquecidas e de umas
tantas outras que abandonara. Projetos também. Lembrou outra experiência
austral de uns anos atrás na qual ela lhe mandou uma mensagem rápida: “vi você
em tudo” (mesmo eu não estando mais lá)... “Às vezes é solitário viver”, diz
Caetano em “Nu com minha música”. A madrugada é doce, cortante quanto o vidro,
o que se definiu não poder por decreto, esvai-se em cada “por que não?” desse
Concha Y Toro. E segue Caetano:
“Nu com meu violão, madrugada
Nesse quarto de hotel
Logo mais sai o ônibus pela estrada, embaixo do céu
O estado de São Paulo é bonito
Penso em você e eu”
“Rapte-me Camaleoa”, venha aqui que esse frio, esse
disco e essa sensação de nada saber é o mote pra ser feliz. Não deixe o vinho
esperando. Venha encontrar algo perdido no novo dos cartões postais. Perder-se
é sempre a melhor forma de achar-se. Perder-se é uma arte perdida, já disse Walter
Benjamin.
Ps: Há mais uma garrafa na geladeira.
para mim, viajar só é alcançar mais ainda o desprendimento das coisas e sentimentos, é atingir o grau maior da compreensão do que deixei para trás, é lavagem de alma, é atingir a sensação de que tudo posso sem um outrem, é desmistificar sentidos e sensações. a-pro-vei-ta!!!! incorpora esse chile que tanto queremos um dia conquistar.
ResponderExcluir¡Salud!