sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ANTES QUE ELA CHEGASSE


Almoçara cedo nesta sexta feira, praticamente não tocou na comida. Ainda havia coisas para arrumar na casa antes que ela chegasse, mais ainda para colocar em ordem em sua cabeça antes que a visse novamente. Urgia dar uma aparência decente ao apartamento, dar um jeito na pilha de pratos na cozinha, papéis sobre o sofá, na roupa usada largada pelos cantos. 

Fez o que podia, pois sua vontade era pouca, forte apenas para uma luta imaginária contra o relógio, faltavam agora poucos instantes para a hora marcada. Do que era preciso mesmo para aquele encontro estava quase tudo pronto. 

O interfone tocou pontual, sabia que era ela, liberou imediatamente o portão. No momento em que chegou a sala estava ainda da mesma forma, não conseguira organizar nada, estava tudo do jeito de sua cabeça. Trocaram um “olá” rápido, pra dentro, intenso na dissolução da expectativa de que, de alguma forma, fosse diferente naquele último encontro. 

Sim, era talvez o último, ela estava se despedindo sem dizer nenhum “adeus”. Perguntou sobre suas coisas. Ele respondeu que estavam todas lá, encostadas na parede, nas últimas malas. Ele ajudou a descê-las do segundo andar. Do outro lado da rua um sedã escuro com os vidros levantados a esperava com o motor ligado. 

Ele faltou ao trabalho essa tarde. Com voz embargada, disse ao Chefe que estava doente.

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