segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Do lado em que quebram as ondas

Henri Cartier-Bresson
Um dia ela saiu. Juntou suas coisas pra ver outra vida, conhecer um oceano distante, ver de perto as ondas que quebravam em outra direção, numa praia que vira num cartão postal quando era pequena. Aquele momento não careceu despedida, nem havia muito que levar, comprou uma passagem de ocasião.  O mais importante era por os pés na areia daquele outro lado do mundo, no lado B de si mesma, quando suas saudades caberiam nos versos de um guardanapo, no sabor ácido daquele limão na bebida, no flerte do jovem que tomava uma cerveja no bar. Num final de tarde estava ali, do outro lado do mundo, no lugar onde os ventos faziam curvas que reviravam seus cabelos cacheados ainda mais, e ela pensava que aquele horizonte era do tamanho de todos os sonhos que podia ter vivido quando ainda não sabia que a dor obrigava a deixar coisas pra trás. A aceitar que o cenário mais belo do cartão postal é feito de alguma matéria de coisas que não existem mais. Nesse momento quis escrever algo, telefonar, quem sabe, tirar a foto perfeita. Não precisava dizer mais nada. Como não mais se veriam tudo seguiria seu rumo, de agora em diante só bastava ver as ondas que quebravam de um jeito diferente do outro lado do mundo.
Distância é uma precária combinação de pontes que insistem em se manter inexistentes, mesmo com todos os aviões cruzando os céus. 

Ps: O outro lado de si mesmo é a fronteira final. Há quem diga que poucos chegam lá. Ninguém nunca conseguiu voltar.

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