sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Conto: MARACUJÁ, CHOCOLATES E MORANGOS


Agora era entardecer, e fazia calor, verão. Estava longe de casa. Pela janela, uns prédios ao longe refletiam as luzes da hora mágica, amarelada, sobre um céu azul profundo, que talvez só sua cidade tivesse. A brisa agora soprava fresca e lhe agradava escrever enquanto as cortinas se moviam. Esse pequeno alento lhe inspirava a expressar suas últimas sensações, a descrever aquele incomodo e a expectativa que lhe perseguia sobre tudo o que estava fora de seu controle.
Pensava agora sobre uma coletânea de últimas imagens, últimos cheiros, derradeiros toques e esperanças instantâneas, sutis, que emergiam da lembrança do último sorriso. Quão eterno quisera que tivesse sido aquele momento. Aquela alegria espontânea do reencontro com os velhos aromas, mar, praia, protetor solar. Naquela noite por alguns instantes, tudo se encheu de Sol. Mesmo sem lugar, por ruas abarrotadas, vagando sem poderem chegar ao porto, sabiam sem confessar, o que queriam dizer um para o outro.
Não disseram! O não dito ficou no ar como um poético talvez, ou um agridoce nunca mais. Mas não, eles não tiveram coragem. Preferiram sorrir um para o outro, como sempre fizeram, como gostavam de se ver. E em silêncio essa brecha milagrosa do tempo foi-se fechando, encerrando na iminência da batida da porta as possiblidades de um ato intempestivo, de uma declaração explosiva, de uma quebra do roteiro. Não, o certo parecia mais forte do que tudo, se impunha com a força de um decreto recém expedido. Por outro lado havia muita poesia no que era considerado errado e também desejo. E poesia sempre atrapalha. Amor é algo pra se guardar em segredo, pra algum momento furtivo, num futuro que pode ser o agora desse por do Sol, ou de um momento inesperado, vindouro, dourado, explodindo em sabores de maracujá, chocolates e morangos...
Ouvindo o som das ondas ao longe.
Eles estarão lá?

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