Naquela manhã fria acordara estranhamente feliz, sua completa ignorância sobre esse estado, só rivalizava agora com todas as formas de amor que achava ser capaz de
sentir. As paredes não seguravam a ânsia de alguma coisa nova que se desenhava
a sua revelia em passado-futuro de uma distância difusa, mas próximo ainda, talvez. As mortes,
assassinatos e suicídios em massa perpetrados covardemente pelo seu coração
silenciavam agora num único gole de café. Hesitara em colocar o pé na rua,
chovia. Já fora apaixonado por chuvas, frio e melancolia. Hoje desconfiava mais
da chuva: pessoas deixam de se ver e o cheiro do mar ficava mais longe,
aprendera isso recentemente, sob a chuva. Resolveu escrever sobre outras coisas
e ansiou grafitar desconexas palavras de amor em um quarto estranho, recém
pintado, que nunca conheceria. Nessa inusitada sessão de mudez e fuga interior pensou
por alguns segundos em qual música ela estaria ouvindo no momento que o seu celular
tocasse. Saiu e foi olhar a chuva nos olhos. Não se tem notícia dele ter
voltado. Nem que tenha feito a tal ligação.
31/05/12