Naquele momento estavam em patrulha em algum lugar do
atlântico norte, há tempos nem o comandante nem nenhum oficial mais graduado
dava qualquer informação de onde estariam exatamente. Pouco importava. Depois
de atingidos, haviam estacionado no fundo do mar. Na verdade, depois de dias
fugindo das escoltas de um comboio aliado que se dirigia para a Inglaterra, as
avarias extremas e a evidente desvantagem frente aos perseguidores transmitiam
a clara expectativa que não escapariam.
O submarino estava silencioso, nem a
própria respiração podia ser ouvida, sonares inimigos perscrutavam o vazio
gelado do oceano em sua procura. Encontrar e destruir. O U-96 era forte, mas
fora posto ao chão.
Foram muitas semanas navegando, as patrulhas
inglesas e americanas tornavam os encontros com os submarinos de
reabastecimento extremamente difíceis, além, mesmo a ação de aproximar-se de um
comboio, atacá-lo e evadir-se, quase impossível. Descobriram isso no último
ataque.
O cabo Hans estava encolhido junto a uma pesada
longarina logo na entrada da sala de máquinas, seu posto. Espera ordens do
comandante para acionar novamente os motores para saírem de lá. Mas alguma
coisa muito séria havia acontecido, estavam lá há horas e ordem não chegava, na
verdade, nada acontecia, como se por antecipação tivessem se transformado num
barco fantasma. Seus tímpanos estavam doloridos das sequências de explosões de
cargas de profundidade lançadas sobre eles, em especial a que explodiu próximo
a proa algumas horas atrás.
Forte cheiro de fumaça de diesel no ar, ar viciado, quase
irrespirável, O submarino estava na penumbra, apenas as luzes de emergência
permaneciam acesas, era preciso poupar a pouca força das baterias. No canto
onde estava sentado, sob a luz fraca de sua lanterna, tirou do bolso a foto de
sua noiva, Anna. Iriam casar-se no último verão, mas a convocação urgente da tripulação
para essa missão os impediram. Hans tinha esperança, olhou ternamente a foto e
a beijou. Voltaria para os braços de Anna, sabia disso.
De repente, a ordem do
comando:
- Motores em um terço!
Pensou: “Estavam vivos na ponte, bom sinal”. Ligou
as máquinas com a ponta dos dedos, motores a frente, um terço. Sairiam daquele
inferno, finalmente. Confiava no capitão. Os olhos verdes de Anna eram seu
farol, voltariam para La Rochelle. Desprenderam-se do fundo, rumo nordeste, com
cautela, casa. Navegaram mais vinte minutos, contato sonar em sua direção, em
alta velocidade.
- Destróier! Gritaram da ponte de comando pela fonia.
A chuva de cargas de profundidade recomeçou. As
explosões cada vez mais próximas.
Uma última e ensurdecedora explosão. Jurara
ter visto Anna chamando-o para o jantar. Silêncio.
O U-96 nunca mais foi visto.
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