domingo, 9 de dezembro de 2012

Por Mares Escuros



Naquele momento estavam em patrulha em algum lugar do atlântico norte, há tempos nem o comandante nem nenhum oficial mais graduado dava qualquer informação de onde estariam exatamente. Pouco importava. Depois de atingidos, haviam estacionado no fundo do mar. Na verdade, depois de dias fugindo das escoltas de um comboio aliado que se dirigia para a Inglaterra, as avarias extremas e a evidente desvantagem frente aos perseguidores transmitiam a clara expectativa que não escapariam. 

O submarino estava silencioso, nem a própria respiração podia ser ouvida, sonares inimigos perscrutavam o vazio gelado do oceano em sua procura. Encontrar e destruir. O U-96 era forte, mas fora posto ao chão.

Foram muitas semanas navegando, as patrulhas inglesas e americanas tornavam os encontros com os submarinos de reabastecimento extremamente difíceis, além, mesmo a ação de aproximar-se de um comboio, atacá-lo e evadir-se, quase impossível. Descobriram isso no último ataque.

O cabo Hans estava encolhido junto a uma pesada longarina logo na entrada da sala de máquinas, seu posto. Espera ordens do comandante para acionar novamente os motores para saírem de lá. Mas alguma coisa muito séria havia acontecido, estavam lá há horas e ordem não chegava, na verdade, nada acontecia, como se por antecipação tivessem se transformado num barco fantasma. Seus tímpanos estavam doloridos das sequências de explosões de cargas de profundidade lançadas sobre eles, em especial a que explodiu próximo a proa algumas horas atrás.

Forte cheiro de fumaça de diesel no ar, ar viciado, quase irrespirável, O submarino estava na penumbra, apenas as luzes de emergência permaneciam acesas, era preciso poupar a pouca força das baterias. No canto onde estava sentado, sob a luz fraca de sua lanterna, tirou do bolso a foto de sua noiva, Anna. Iriam casar-se no último verão, mas a convocação urgente da tripulação para essa missão os impediram. Hans tinha esperança, olhou ternamente a foto e a beijou. Voltaria para os braços de Anna, sabia disso. 

De repente, a ordem do comando:
- Motores em um terço!

Pensou: “Estavam vivos na ponte, bom sinal”. Ligou as máquinas com a ponta dos dedos, motores a frente, um terço. Sairiam daquele inferno, finalmente. Confiava no capitão. Os olhos verdes de Anna eram seu farol, voltariam para La Rochelle. Desprenderam-se do fundo, rumo nordeste, com cautela, casa. Navegaram mais vinte minutos, contato sonar em sua direção, em alta velocidade.

- Destróier! Gritaram da ponte de comando pela fonia.

A chuva de cargas de profundidade recomeçou. As explosões cada vez mais próximas. 
Uma última e ensurdecedora explosão. Jurara ter visto Anna chamando-o para o jantar. Silêncio.

O U-96 nunca mais foi visto.

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