"DAVE BOWMAN: You see, something's going to happen. You must leave. HEYWOOD FLOYD: What? What's going to happen? DAVE BOWMAN: Something wonderful" (2010: The Year We Make Contact)
quarta-feira, 31 de julho de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
Último Voo
Acordou subitamente no meio da madrugada. Estava
bastante suada. Oitavo andar, mesmo com a janela aberta, não havia sinal de
brisa que aliviasse o forte calor de verão. Tudo estava iluminado, o luar
invadia o quarto. Estava sozinha, havia muito tempo que não dividia sua vida
com alguém. Acostumara-se à solidão, se dava conta disso agora, pois não tinha
a quem contar o sonho estranho que acabara de ter.
Mas esse não era o problema, nem mesmo seus estranhos
sonhos recorrentes. Sua Vida, essa sim o era, iniciada dessa forma, com letra maiúscula
e intensidade, pois naquele instante, por alguns segundos nos quais recobrava
fôlego, ofegante, não sabia mais o que era real. Demorou até que seu pulso
voltasse ao normal, tinha fortes dores na coluna. Tomou um comprimido e olhou o
vazio da rua pela janela.
Lembrava-se do sonho agora, via seu amor indo
embora, atravessando a rua, levando suas coisas. Arrependeu-se, tentou
impedi-lo, pulou a janela e conseguiu voar. Seu feito atraiu a atenção de todos
os passantes, que voltaram o olhar para cima. Uma mulher gritou. Ele parou no
meio da faixa de pedestres e olhou para trás. Foi atropelado e morto por um
ônibus circular.
Hoje, depois de tanto tempo, tem duvidas se as
coisas aconteceram de fato dessa maneira.
Tiraria a prova, essa noite pularia a janela outra
vez.
Martina Topley Bird - Sandpaper Kisses (live)
"You're gonna leave her
You have deceived her
Just a girl, a blood red pearl"
You have deceived her
Just a girl, a blood red pearl"
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domingo, 21 de julho de 2013
A Caixa Floral
A caixa de presente, dessas de papelão, ornamentada
com estampas banais (motivos florais, sem graça, em tons de rosa), permaneceu
fechada sobre a mesa de jantar por mais de um mês. Havia muito tempo que não
retornava às suas memórias de juventude, em especial às contidas nas imagens da dita caixa de ordinários motivos florais. Passava já anos desde que
se despediu de seu grande amor, pra sempre. O tempo passou e a recusa em falar
palavra que fosse reforçava sua convicção de que fizera a coisa certa.
Nessa manhã de sábado banhou-se, colocou roupa limpa,
como se preparando para um grande encontro. À mesa, tomou seu café
fitando a tal caixa. Receou abri-la. Antes, tentou lembrar-se dos momentos que
as fotos traziam, se deu conta que já não conseguia. Seu silêncio havia feito
morada em sua memória. Após o café, desistiu do plano, retornou a caixa para o
fundo do maleiro do guarda-roupa. Sua necessidade em convencer-se em seguir em
frente não podia mais conviver com as flores que brilhariam pra sempre ocultas
ali dentro, junto com as praias, festas, amigos, lugares distantes, aranhas e
traças que comiam devagar o que passou.
Mais a frente nessa história, enquanto convalescente
em um hospital, pediu a alguém que lhe trouxesse a tal caixa. Era noite. Na
manhã seguinte, na hora da visita, seu pedido foi realizado. Tarde demais,
partira antes. Não teve chance de rever o tempo que acreditava na plena
realização de suas esperanças de futuro.
A desbotada caixa floral de papelão seguiu fechada
para a escuridão do seu último silêncio, dentro caixão. A ninguém mais, de
fato, dizia respeito aquele passado.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
domingo, 7 de julho de 2013
More Than This - Lost In Translation (Bill Murray & Scarlett Johansson feat. Roxy Music)
Além disso, nada mais.
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sexta-feira, 5 de julho de 2013
Porque era dia de aniversário
Henri Cartier Bresson |
Havia sol no dia que ela foi até a agência dos correios postar a dita carta. Havia prometido pra si mesma que não o faria, durante muito tempo hesitou, algumas vezes ensaiou o percurso a pé, que passava pelo mercado, atravessava aquela praça dos benjamins, pela esquina daquele botequim frequentado pelos motoristas e cobradores da empresa de ônibus.
Hoje foi o
dia em que aquele seu nó na garganta se desfez. Colocou um diáfano vestido
floral, com alças finas, aquele mesmo vestido que repetia e descrevia, em câmera
lenta, a cadência de seus passos como sua poesia em movimento, quando passava pelas ruas. Hoje resolveu
soltar o cabelo, estava comprido. Solto, pois não havia mais motivos de
esperas, nem amarras para que não balançassem ao vento da manhã dessa sexta
feira.
Postou a carta que dizia de sua liberdade. Deu as costas para a loja dos
Correios com a leveza de quem nasceu hoje. Parou na padaria, pediu um café,
fumou um cigarro, enquanto ia para o Centro. Flertou com o rapaz bonito da loja
de sapatos.
Sentia-se mais viva que nunca em seu aniversário.
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