terça-feira, 30 de julho de 2013

Último Voo


Acordou subitamente no meio da madrugada. Estava bastante suada. Oitavo andar, mesmo com a janela aberta, não havia sinal de brisa que aliviasse o forte calor de verão. Tudo estava iluminado, o luar invadia o quarto. Estava sozinha, havia muito tempo que não dividia sua vida com alguém. Acostumara-se à solidão, se dava conta disso agora, pois não tinha a quem contar o sonho estranho que acabara de ter.

Mas esse não era o problema, nem mesmo seus estranhos sonhos recorrentes. Sua Vida, essa sim o era, iniciada dessa forma, com letra maiúscula e intensidade, pois naquele instante, por alguns segundos nos quais recobrava fôlego, ofegante, não sabia mais o que era real. Demorou até que seu pulso voltasse ao normal, tinha fortes dores na coluna. Tomou um comprimido e olhou o vazio da rua pela janela.

Lembrava-se do sonho agora, via seu amor indo embora, atravessando a rua, levando suas coisas. Arrependeu-se, tentou impedi-lo, pulou a janela e conseguiu voar. Seu feito atraiu a atenção de todos os passantes, que voltaram o olhar para cima. Uma mulher gritou. Ele parou no meio da faixa de pedestres e olhou para trás. Foi atropelado e morto por um ônibus circular.

Hoje, depois de tanto tempo, tem duvidas se as coisas aconteceram de fato dessa maneira.


Tiraria a prova, essa noite pularia a janela outra vez.

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