A caixa de presente, dessas de papelão, ornamentada
com estampas banais (motivos florais, sem graça, em tons de rosa), permaneceu
fechada sobre a mesa de jantar por mais de um mês. Havia muito tempo que não
retornava às suas memórias de juventude, em especial às contidas nas imagens da dita caixa de ordinários motivos florais. Passava já anos desde que
se despediu de seu grande amor, pra sempre. O tempo passou e a recusa em falar
palavra que fosse reforçava sua convicção de que fizera a coisa certa.
Nessa manhã de sábado banhou-se, colocou roupa limpa,
como se preparando para um grande encontro. À mesa, tomou seu café
fitando a tal caixa. Receou abri-la. Antes, tentou lembrar-se dos momentos que
as fotos traziam, se deu conta que já não conseguia. Seu silêncio havia feito
morada em sua memória. Após o café, desistiu do plano, retornou a caixa para o
fundo do maleiro do guarda-roupa. Sua necessidade em convencer-se em seguir em
frente não podia mais conviver com as flores que brilhariam pra sempre ocultas
ali dentro, junto com as praias, festas, amigos, lugares distantes, aranhas e
traças que comiam devagar o que passou.
Mais a frente nessa história, enquanto convalescente
em um hospital, pediu a alguém que lhe trouxesse a tal caixa. Era noite. Na
manhã seguinte, na hora da visita, seu pedido foi realizado. Tarde demais,
partira antes. Não teve chance de rever o tempo que acreditava na plena
realização de suas esperanças de futuro.
A desbotada caixa floral de papelão seguiu fechada
para a escuridão do seu último silêncio, dentro caixão. A ninguém mais, de
fato, dizia respeito aquele passado.
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